Teses Doutorado 2023

Os trabalhos estão colocados em ordem cronológica (data da defesa) e podem ser acessados na plataforma Sucupira ao clicar em seus títulos.


 

FERNANDA SANTA ROZA AYALA MARTINS
Fabricando o doce amargo: setor sucronergético, colonialidade do poder e expropriação de territórios Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul (2002-2014)
Defesa: 26/01/2023

Banca: Debora Franco Lerrer (Orientadora / CPDA/UFRRJ), John Wilkinson (CPDA/UFRRJ), Regina Bruno (CPDA/UFRRJ), Caio Pompeia (USP) e Tonico Benites (UFRR).

Resumo: Ao longo da primeira década dos anos 2000 os biocombustíveis emergiram no cenário internacional em um contexto de múltiplas crises (energética, climática, alimentar e financeira) que teria desempenhado papel fundamental para o avanço deste setor impelindo, conforme descrito por Harvey (2004), a exportação de capitais para lugares onde a reprodução ampliada e a acumulação são facilitadas não somente no mercado de capitais, mas também na concretude de sua produção e reprodução. No Brasil, ao se apoiar discursivamente na emergente preocupação com as questões climáticas e com o esgotamento das fontes de energia fósseis o setor assumiu posição central para a estratégia de consolidação da economia política do agronegócio, cujos resultados observados por muitos autores apontam para a manutenção da concentração fundiária, para o acirramento da violência e dos conflitos no campo e para o aprofundamento de mecanismos de expropriação da população do campo. Sem nenhuma tradição usineira, o Mato Grosso do Sul se destacou como cerne desta dinâmica tendo representado uma nova fronteira agrícola para o setor. Isto resultou em uma ampliação extraordinária e veloz da área plantada e colhida de cana e do número de usinas instaladas na região. Ao observarmos os anos de 1995 a 2016, constata-se que a área plantada de cana-de-açúcar foi ampliada em 774%, a do milho em 235%, a da soja em 134% e a área destinada ao trigo foi reduzida em 35%. Esta tese tem como tema central a investigação da relação entre as dinâmicas de organização das frações de classe dominantes locais do Mato Grosso do Sul, no que concerne ao avanço do setor sucroenergético no período entre 2002 e 2014, e as dinâmicas históricas de expropriação de territórios dos Guarani e dos Kaiowá da região. Argumenta-se que o regime de desapropriação do período, observado pela lupa do processo de expansão do setor para o Mato Grosso do sul, foi amparado pela persistência de elementos de colonialidade de poder em uma relação de integração constitutiva com os mecanismos de sustentação dos vínculos que conformaram um contexto local de burguesia coligada. Esta articulação serviu, ao mesmo tempo, como estratégia de acumulação de capital e como dispositivo de manutenção da hegemonia dos grandes proprietários de terra locais. Diante disto, lançou-se luz para os vínculos estabelecidos entre as frações de classe dominantes locais ligadas à grande propriedade fundiária e os interesses usineiros, cuja dinâmica de coligação de interesses moldou o processo de expansão do setor na região. Observou-se, com isso, que o modo como a expansão do setor sucroenergético para a região foi operado reforçou o poder político e econômico de frações de classe dominantes locais historicamente constituídas a partir do controle da propriedade da terra, contribuindo para a manutenção da hegemonia dos interesses contrários aos processos de demarcação das terras indígenas Guarani e Kaiowá.
Palavras-chave: Mato Grosso do Sul; Guarani; Kaiowá; Setor Sucroenergético; Classe Dominante; Agronegócio; Colonialidade do poder; Burguesia coligada; Etanol.

 


 

VICTOR ANDRES NIKLITSCHEK URZUA
A prática instituinte da Reserva Extrativista Marinha de Canavieiras-BA: conservação da biodiversidade e segurança alimentar e nutricional
Defesa: 17/04/2023

Banca: Renato Maluf (Orientador / CPDA/UFRRJ), Carmen Andriollin (CPDA/UFRRJ), Catherine Prost, Valter do Carmo Cruz e Annelise Caetano Fraga Fernandez.

Resumo: As Unidades de Conservação da Natureza têm sido frequentemente descritas como a principal estratégia de conservação da biodiversidade no Brasil, onde a proteção ao meio ambiente é estabelecida na constituição federal como um direito “de todos” e um “bem de uso comum” da população atual e das futuras gerações. Por sua vez, a noção de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN) é relacionada a estratégias de realização do direito “de todos” ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades, que seja a de um ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida. Enquanto a realização da SSAN demanda ações intersetoriais de garantia do acesso à terra e território, de participação e controle social sobre os recursos e de garantia de acesso aos bens da natureza, as Unidades de Conservação do tipo Reservas Extrativistas (Resex), por suas características estruturantes, se apresentam como a institucionalização de um modelo utilização da terra e dos recursos naturais que promove a preservação da biodiversidade a partir do manejo, da permanência e da participação ativa das comunidades extrativistas artesanais que historicamente integram os territórios. Nesses termos, esta pesquisa se situa na interface dos temas da conservação da biodiversidade e da SSAN e seu objetivo é entender se e como as Resex Marinhas podem ser entendidas como espaços onde a defesa do território pelas comunidades locais possibilita incorporar objetivos e práticas relacionadas com a SSAN e de que maneiras a noção de práticas instituintes do comum participam dessa junção. A premissa é de que essas práticas permeiam todo o processo de implantação e consolidação desses territórios e estão relacionadas com a garantia daqueles direitos. A Reserva Extrativista Marinha de Canavieiras (BA) foi o lugar da pesquisa de campo e os procedimentos utilizados para análise dessas relações foi a aplicação de um inquérito sobre a insegurança alimentar nas comunidades pescadoras, apoiado na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, o acompanhamento de reuniões do Conselho Deliberativo entre 2020 e 2022 e de encontros com lideranças pescadoras, em 2022. Como consideração geral, é possível afirmar que a instituição da Resex Canavieiras está imbricada à organização das categorias dos pescadores e marisqueiras e que as práticas instituintes, ao promover o acesso a políticas públicas, mobiliza permanentemente a criação de comuns.
Palavras-chave: Reserva Extrativista; Canavieiras; Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional; Prática instituinte.

 


 

DANIELA DA SILVA EGGER
A crise de 2008 e as repercussões nos regimes de propriedade e uso da terra no MATOPIBA
Defesa: 19/04/2023

Banca: Sergio Leite (Orientador / CPDA/UFRRJ), Leonilde Servolo de Medeiros (CPDA/UFRRJ), Karina Kato (CPDA/UFRRJ), Valdemar Joao Wesz Junior e Paulo Roberto Raposo Alentejano

Resumo: Os movimentos do capital no espaço trazem interpretações para o entendimento do sentido de sua produção sob o capitalismo, e tratam da circulação do capital e seus desdobramentos como um mecanismo de “alívio”, que recebe o nome de “ajuste espacial”, às crises suas crises de circulação e, envolve mecanismo da captura de “novos” territórios. O ano de 2008 é um marco temporal de crise que abalou as economias nacionais e ao mercado mundial como um todo, o que promoveu, devido e efeito da queda na rentabilidade, uma migração de capitais financeiros para outros setores, atraindo consigo a expansão da área plantada das commodities ocasionando a compra e aquisição de parcelas de terras. Desde então assistimos uma demanda global que se voltou para a agricultura e, por sua vez, para suas áreas de expansão em busca de rendimentos maiores. No Brasil, percebemos essa mudança espacial da atividade capitalista com a expansão da fronteira agrícola no cerrado, em especial na produção espacial do MATOPIBA, voltada para atender as necessidades de outras regiões e economias, que revela os vários mecanismos da necessidade do capital de (re)produzir o espaço. Isso foi possível, com a criação de um mercado dinâmico de terras no MATOPIBA com a presença de capitais financeiros especulativos, dentre outros mecanismos de articulação público-privado nos territórios, delineando uma dinâmica de disponibilização socioespacial baseada na expansão territorial através de variadas estratégias de aquisição das terras. Este processo, entretanto, ocorre sobre territórios que tradicionalmente são ocupados por diversas populações impondo novas regras de acesso e uso das terras, antes comuns, provocando mudanças nos regimes de propriedade ao incidir sobreas formas de uso da terra pré-estabelecidas.
Palavras-chave: crise de 2008; demanda global por terras; MATOPIBA.

 


 

PAULO AUGUSTO ANDRE BALTHAZAR
A Teoria do Discurso de Ernesto Laclau e a digitalização da politica: razão populista e razão cibernética
Defesa: 25/04/2023

Banca: Jorge O. Romano (Orientador / CPDA/UFRRJ), Leonilde Servolo de Medeiros (CPDA/UFRRJ), Nelson Delgado (CPDA/UFRRJ), Gerardo Enrique Cerdas Vega e Jair de Souza Ramos

Resumo: O impacto das redes cibernéticas sobre os fluxos de informação, pessoas e recursos materiais e simbólicos que organizam a sociedade ganham novas dimensões espaciais e temporais com a globalização e alcançam múltiplos espaços de sociabilidade. Com a convergência entre telefonia móvel e internet gerada pelos smartfones ao final da primeira década do século vinte e um, seu impacto sobre as práticas políticas dentro do paradigma das democracias liberais ganha nova intensidade, sendo a eleição de Barak Obama nos EUA um marco inicial de transformações que alcançam novo patamar após as eleições nos EUA em 2016 e no Brasil em 2018 – alteram formas discursivas, mediações e institucionalidades que articulavam as relações de representação e os parâmetros do debate politico no campo institucional e nas sociabilidades cotidianas segundo aqueles moldes consolidados ao longo do século vinte. Nessa tese exploramos o potencial das associações entre a teoria do discurso, elaborada por Ernesto Laclau em parceria com Chantal Mouffe, e a teoria cibernética para compreender um fenômeno sociotecnocultural que relacionamos a uma crise do modelo de representação das democracias liberais, que atualiza dilemas e contradições sobre o próprio lugar dos sujeitos, classes ou grupos populares na política. O pressuposto é que uma abordagem da política como produção de formações hegemônicas através de prática articulatória contingentes e discursivas de demandas sociais de natureza sistêmicas ou antisistêmicas – às quais denominou de “razão populista” – colocada em diálogo com o que aqui denominamos “razão cibernética” valorizando a abordagem produzida por Álvaro Vieira Pinto que incorpora lógica, filosofia, biologia, teoria da informação e teoria da cultura para compreensão dos processos digitais, em conjunto produzem ferramentas heurísticas adequadas à compreensão do fenômeno que nomeamos como digitalização da política.
Palavras-chave: digitalização da política; cibernética; informação; populismo; teoria do discurso; hegemonia democracia; representação; cultura popular.

 


 

FABIO DIAS DOS SANTOS
Mercados alimentares locais, tradicionalidade e novas configurações: um estudo sobre a Feira Livre de Porteirinha, norte do estado de Minas Gerais
Defesa: 20/04/2023

Banca: John Wilkinson (Orientador / CPDA/UFRRJ), Maria José Carneiro (CPDA/UFRRJ), Georges Flexor (CPDA/UFRRJ), Zina Angelica Caceres Benavides e Silvia Aparecida Zimmermann

Resumo: Esta tese se soma a um conjunto de estudos que têm ampliado a escuta aos sujeitos e organizações sociais, com atuação na construção dos mercados locais (agricultores, comerciantes, consumidores, entidades representativas, movimentos), e que há muito reivindicam a visibilidade das práticas que inovam e abrem possibilidade de apresentar e alargar a compreensão desses espaços de negociação e transação. As feiras livres, nesse contexto, constituem uma dessas experiências. Apesar das transformações da sociedade de mercado com a virtualização das redes de transação financeira e a desconstrução da centralidade dos mercados físicos, partimos da premissa de que os mercados alimentares locais tomam direção num movimento contra hegemônico. Tendo como experiência a feira livre do município de Porteirinha, localizado na região norte do estado de Minas Gerais, defende-se aqui a hipótese de que os mercados alimentares tradicionais constituem uma institucionalidade predominantemente mantenedora de valores sociais e culturais construídos historicamente pelos atores locais, mas que tem ganhado maior centralidade a partir da incorporação de artefatos inovadores (sociais, políticos e tecnológicos) que contribuem para a atualização e fortalecimento desse tipo de mercado. O presente estudo evidencia as diferenças entre os mercados tradicionais locais e o que se convencionou chamar na literatura de “novos mercados”. Buscando resgatar ainda a reflexão sobre os mercados alimentares tradicionais que perderam espaço no debate acadêmico, inclusive na Nova Sociologia Econômica, mas que reivindica uma investigação mais apurada, tendo em vista expressivas evidências empíricas de que essa instituição tradicional tem apresentado indicativos de refortalecimento dos mercados locais.
Palavras-chave: Mercados alimentares tradicionais; Desenvolvimento local; Feiras livre; Reciprocidade solidária/cívica.

 


 

MARCOS ALEXANDRE PIMENTEL DA SILVA
Do declínio à destituição: as consequências pessoais do desmonte do Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Sudeste Paraense-PA
Defesa: 25/05/2023

Banca: Nelson Delgado (Orientador / CPDA/UFRRJ), Sergio Leite (CPDA/UFRRJ), Claudia Job Schmitt (CPDA/UFRRJ), Jose Renato Sant’Anna Porto e Valter Do Carmo Cruz

Resumo: De um modo geral, esta tese procurou compreender os efeitos do desmonte da política de desenvolvimento territorial rural a partir da análise das consequências pessoais da destituição de uma de suas principais componentes, sua institucionalidade participativa – uma arena pública destinada à participação de atores, movimentos sociais e organizações da sociedade civil nos processos de formulação e implementação de políticas. Para isso, tomou como referência o estudo do Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Sudeste Paraense (Codeter SE Paraense), no período de maior intensificação e visibilidade desse tipo desmonte, a partir de 2016. Especificamente, a pesquisa buscou (a) analisar o processo histórico de construção das interações socioestatais a partir do qual resultaram as formas de se organizar, de fazer coalizões e de negociar a ação pública características dos atores sociais que ocuparam o Colegiado no presente; (b) identificar as características do desmonte de políticas na estrutura, organização e funcionamento da institucionalidade participativa da política de desenvolvimento territorial rural implementada na região do Sudeste Paraense; e (c) compreender as consequências pessoais do desmonte da institucionalidade participativa representada pelo Codeter SE Paraense, levando em conta o papel desempenhado por agentes públicos, atores, movimentos sociais e organizações da sociedade civil que se fizeram presentes nesse espaço. A pesquisa levou em conta a articulação de duas abordagens teóricas e conceituais no campo das políticas públicas. Em primeiro lugar, o debate recente, no campo das Ciências Políticas, que se refere à abordagem policy dismantling. Para essa perspectiva, o desmonte se constitui em uma estratégia específica de corte, redução, diminuição ou de remoção completa de uma política existente, é um tipo de mudança de política de caráter mais destrutivo. Entretanto, seus efeitos acabam por afetar, muitas vezes de forma decisiva, as vidas individuais daquelas e daqueles inseridos na política desmontada. Por isso, uma vez que o desmonte é operado em um campo inside the state, e seus efeitos mais perversos acabam por se instalar outside the state, torna-se necessário articular esses dois campos. Dessa forma, em segundo lugar, procuramos articular a abordagem do desmonte à análise da mútua constituição entre movimentos sociais e políticas públicas. Para esta proposta, atores sociais, movimentos e as organizações da sociedade civil promovem efeitos nas políticas, ao construírem espaços de engajamento e de protagonismo para a formulação e implementação de políticas. Diante disso, uma conclusão imediata poderia ser a de afirmar que a destituição do Codeter SE Paraense levou à desmobilização das ações coletivas que eram construídas por meio dessa arena. Porém, ao privilegiarmos a abordagem desses efeitos a partir de suas consequências pessoais, é possível perceber que esses efeitos não se resumem apenas à desmobilização da institucionalidade que se tinha, mas eles são difusos, heterogêneos, e desencadeiam a produção de deslocamentos compulsórios, efetuados em contextos de desmonte de políticas públicas e por processos de destituição de institucionalidades democráticas.
Palavras-chave: Desmonte de políticas públicas; política de desenvolvimento territorial; institucionalidades participativas; consequências pessoais; deslocamentos; Região do Sudeste Paraense.

 


 

PAULIE CERES PALASIOS
A transição de Escola Agrotécnica Federal de Ceres/GO para Instituto Federal Goiano Campus Ceres/GO: dinâmicas cotidianas, acomodações e resistências
Defesa: 15/06/2023

Banca: Claudia Job Schmitt (Orientadora / CPDA/UFRRJ), Elisa Guaraná de Castro (CPDA/UFRRJ), Leonilde Servolo de Medeiros (CPDA/UFRRJ), José Carlos Moreira de Souza e Ricardo José Braga Amaral de Brito.

Resumo: Esse estudo busca analisar o processo de transição da Escola Agrotécnica Federal de Ceres/GO (EAFCe/GO) para Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, enfatizando as mudanças ocorridas na estrutura pedagógica e organizacional e nas dinâmicas cotidianas da instituição, com especial atenção às experiências vivenciadas por docentes, discentes e funcionários técnico-administrativos no dia a dia da vida escolar. Tão importantes quanto os processos de acomodação e adaptação, procuramos identificar os momentos de conflito e a emergência de controvérsias e processos de resistência às mudanças institucionais intercorridos ao longo desse processo. A pesquisa busca refletir, a partir de um caso específico, sobre os diferentes aspectos envolvidos na construção de uma instituição e na sua reprodução/transformação ao longo do tempo. Priorizamos em nossa análise as distintas maneiras pelas quais os atores sociais envolvidos experienciam essas dinâmicas de transformação. Para isso, apoiamo-nos, principalmente, sobre as construções teóricas de Norbert Elias e Pierre Bourdieu, que buscam pensar a ação dos indivíduos mediante sua inserção em redes ou campos de relações, estabelecendo conexões entre práticas individuais e configurações sociais mais abrangentes. As reflexões de Bernard Lahire na construção de uma sociologia na escala dos indivíduos, e de François Dubet envolvendo o conceito de experiência e, mais especificamente, a experiência escolar, também foram importantes na construção do trabalho. Por sua importância e significado na trajetória histórica do Campus Ceres, por existir desde a criação da instituição, com o maior número de alunos matriculados e concluintes, marcado pela regularidade de oferta, e definidor da própria identidade institucional, na percepção dos alunos e dos servidores, elegemos o curso Técnico em Agropecuária e sua trajetória pedagógica e institucional como fio condutor de nossa análise. O trabalho busca apresentar uma reconstituição histórica da trajetória tanto do Curso Técnico em Agropecuária, como da escola, em um sentido mais amplo, com base em um esforço de pesquisa documental, levantamento e análise de dados quantitativos e na realização de entrevistas semiestruturadas com docentes, discentes e funcionários técnico-administrativos (ativos e egressos), entre outros atores de relevância para a pesquisa. Identificamos nesse percurso duas grandes configurações organizadoras da vida institucional desta unidade de ensino – a configuração EAFCe (1993 a 2008) e a configuração Campus Ceres do IF Goiano (2008 aos dias atuais) –, ambas originárias de políticas públicas nacionais. Os resultados da pesquisa evidenciam que as transformações que marcaram a inserção da escola nessas duas configurações foram mediadas pelo cotidiano escolar e seus atores e pela relação da instituição com seu entorno, assumindo particularidades e peculiaridades em sua inscrição local.
Palavras-chave: Mudança institucional. Figuração. Ensino agrotécnico. Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Instituto Federal Goiano. Escola Agrotécnica Federal de Ceres/GO.

 


 

CAMILA MIDORI MOREIRA
O fazer do Estado e formas de exercício de poder: práticas administrativas na produção de um território titulado
Defesa: 30/06/2023

Banca: Andrey Cordeiro Ferreira (Orientador / CPDA/UFRRJ), Carmen Andriolli (CPDA/UFRRJ), Eliane Cantarino O’Dwyer, Maria Celina Pereira De Carvalho e Camila Daniel

Resumo: Nesta tese analisamos as práticas de Estado e formas de exercício de poder expressas no procedimento administrativo de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras de comunidades remanescentes de quilombos criado pelo Decreto Presidencial nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, e executado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Argumentamos que tal procedimento, que tem por finalidade a titulação das terras quilombolas, se desenvolve por um complexo mecanismo burocrático composto por atos administrativos e decisões de autoridades que operam para a constituição da legalidade e legitimidade na criação de um território quilombola titulado pelo Estado. Para analisar as dinâmicas de poder expressas nesta relação entre Estado e quilombo, primeiro apreendemos, por meio da análise da bibliografia especializada, as interpretações intelectuais e legais envolvidas no contexto da criação e aplicação do direito à titulação das terras quilombolas. Na sequência, nos dedicamos análise das normas do INCRA que prescrevem o passo a passo da titulação do território quilombola e que delimitam formalmente o poder de ação do Estado. Os efeitos dessas normas foram analisados por meio da sistematização de dados do INCRA sobre os resultados da titulação de quilombos. Por fim, as práticas de Estado são analisadas por meio da etnografia de documentos do processo administrativo de titulação do território do Quilombo Preto Forro, localizado em Cabo Frio-RJ. Se os documentos são as formas pelas quais se processam administrativamente ações e significados produzidos pelo Estado, temos que um processo administrativo, formado por uma compilação ordenada de documentos cuja finalidade é a titulação de uma terra quilombola, pode ser objeto de etnografia sobre a forma de produção burocrática de um território quilombola titulado. A etnografia processual da titulação do território de Preto Forro mostrou que para o prosseguimento do processo administrativo foram necessárias três formas de mecanismos para construção de uma narrativa política jurídica que amparasse a realização do direito. A primeira, responsável constituição da legitimidade, está baseada no saber/poder antropológico que é expresso nos relatórios técnicos. A segunda que se fez nas reiteradas idas e vindas das interpretações legais para instrução processual que garantiram a legalidade do procedimento. A terceira forma está nas decisões de autoridades que estabilizam sujeitos e concedem direitos. A análise etnográfica identificou, assim, como operam os artifícios de construção de coerência, legalidade e legitimidade sobre a ordem do discurso construído com a finalidade de dar continuidade ao processo para que assim ele constitua seu objeto: o território titulado.
Palavras-chave: Quilombos; políticas públicas; território.

 


 

FRANCIS CASAGRANDA ZANELLA
Reconfigurações na economia estancieira do Sudoeste do Rio Grande do Sul (1985-2022): renda da terra, bovinocultura de corte e diferenciação social
Defesa: 18/09/2023

Banca: Nelson Delgado (Orientador / CPDA/UFRRJ), Fabiano Escher (CPDA/UFRRJ), Karina Kato (CPDA/UFRRJ), Marcos Botton Piccin e Paulo Dabdab Waquil

Resumo: Esta tese analisa as reconfigurações na economia estancieira do Sudoeste do Rio Grande do Sul, entre 1985 e 2022, com atenção para as dinâmicas envolvendo a propriedade fundiária, a renda da terra, a pecuária bovina de corte e a diferenciação social entre estancieiros. As abordagens teóricas de Henry Bernstein e Guilherme Delgado, sobre mudanças agrárias, dinâmicas de classe e o capitalismo na agricultura brasileira, são utilizadas para interpretar as mediações dos estancieiros, enquanto patrões rurais e proprietários de terras, com as políticas macroeconômicas e os demais grupos implicados nos mercados agropecuários. A pesquisa combina três fontes de dados: a) revisão da literatura especializada sobre as transformações no patronato rural e nos sistemas produtivos durante os séculos XX e XXI; b) levantamento de dados nos censos agropecuários e em outras fontes de pesquisa sobre a terra e a bovinocultura de corte; c) trabalho de campo no município de São Gabriel-RS a fim de construir diálogos entre achados empíricos, teóricos e censitários. A principal hipótese argumentada ao longo da tese indica que a acumulação econômica estancieira se reconfigura durante as décadas de 1980 e 1990, de modo que a propriedade da terra e a bovinocultura de corte gradativamente assumem novas feições. No entrelaçamento desses agentes ao contexto nacional de pacto do agronegócio, a partir dos anos 2000, os estancieiros ficaram mais expostos às relações concorrenciais na bovinocultura de corte em escala local e nacional, mas, ao mesmo tempo, elevaram a receita potencialmente apropriada com a renda da terra. Esta expectativa de rentabilidade avança no Sudoeste rio-grandense em sintonia com a aptidão das terras para a lavoura temporária. Enquanto isso, seu avanço na pecuária de corte não é tão unívoco quanto na agricultura, de modo que se observam heterogeneidades produtivas e diferenciações patrimoniais entre estancieiros. Sua posição foi deslocada na cadeia produtiva do gado de corte em termos da perda de controle sobre o elo industrial da carne vermelha e da menor relevância na posse do estoque bovino. No entanto, a conservação do patrimônio fundiário segue como recurso fundamental para o acoplamento desse setor social enquanto fração dos grupos dominantes no interior dos mercados agropecuários sul-rio-grandenses e das disputas nacionais pela apropriação de fundos públicos.
Palavras-chave: Agronegócio; Região da Campanha; Pecuária.

 


 

LARA IZABELLA TOSTA ARANTES
Entre a estrela vermelha e a tradição secular: a trajetória do Partido dos Trabalhadores no município de Goiás
Link será disponibilizado em breve
Defesa: 12/12/2023

Banca: Leonilde Servolo de Medeiros (Orientadora / CPDA/UFRRJ), Debora Lerrer (CPDA/UFRRJ), Regina Bruno (CPDA/UFRRJ), Jadir de Moraes Pessoa (UFG) e João Vicente Marques Lagüéns

Resumo: Este trabalho trata da criação e trajetória do Partido dos Trabalhadores no município de Goiás GO, primeira capital do estado, analisando suas estratégias, dificuldades, bases, alianças e, sobretudo, que elementos, atores e condições permitiram que se constituísse em uma força político eleitoral capaz de manter se no poder por três eleições consecutivas (de 2012 a 2020). O objetivo é observar como uma força política consegue se inserir no campo político municipal ao longo do tempo, analisando também a cultura e a economia do lugar. Foi realizada uma revisão de literatura centrada no poder simbólico para Bourdieu (1989), na concepção de política municipal para Palmeira e Heredia (2012), no coronelismo no Brasil e em Goiás e em como a luta pela terra no estado e no município estudado se conectam à política do Partido dos Trabalhadores no município de Goiás. Foi realizado também um trabalho de campo nas campanhas eleitorais de 2018 e 2020, além de entrevistas com políticos filiados ao PT e alguns eleitores. O papel da Igreja Católica na luta pela terra e na constituição dessa força política que resulta na criação do PT fica evidenciado diante de um partido que se forma no município numa tríade com a CPT e a Diocese. Os elementos culturais que a política tradicional consegue deixar no município são ressaltados durante o trabalho de campo e colocados em nossas conclusões, visto que uma divisão entre ―os de dentro e os de fora‖ no município aparece como elemento identificador em diferentes épocas, carregada de diferentes sentidos, mas centrada efetivamente em ser pertencente ou não à luta efetiva pelo poder municipal.
Palavras-chave: Política, Política municipal, Política tradicional, Partido dos Trabalhadores, Assentamentos, Goiás.

 


 

LARISSA APARECIDA DA SILVA CABRAL
Pesquisadores(as) agroecológicos(as): trajetórias profissionais e formas de engajamento na conformação de uma comunidade epistêmica
Link será disponibilizado em breve
Defesa: 13/12/2023

Banca: Claudia Job Schmitt (Orientadora / CPDA/UFRRJ), Maria José Carneiro (UFRRJ), Annelise Caetano Fraga Fernandez (UFRRJ), Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio (Embrapa), Flávia Charão Marques (UFRGS) e Romier da Paixão Sousa (IFPA).

Resumo: Esta tese tem por objetivo reconstituir, sob uma perspectiva sociológica, as trajetórias de pesquisadoras e pesquisadores inseridos em diferentes contextos geracionais, dinâmicas institucionais e campos disciplinares que, em seus espaços de atuação, se identificam como agentes sociais engajados na construção da agroecologia como um campo específico de produção e circulação de conhecimentos. A partir dessas trajetórias profissionais, o trabalho busca refletir sobre as crenças compartilhadas, práticas e relações que conformam uma comunidade epistêmica referenciada na agroecologia no Brasil. Para tal, amparamo-nos nas contribuições da Sociologia da Ciência e dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, com vistas a compreender os paradigmas e visões de mundo que orientam as práticas de ensino, pesquisa e extensão conduzidas por estes pesquisadores (as), as relações e jogos de força presentes no campo científico, bem como as dinâmicas de coprodução estabelecidas entre ciência e política nas práticas cotidianas desses sujeitos. Como recorte metodológico, iniciamos a investigação a partir de uma análise quantitativa dos grupos de pesquisa registrados junto ao Diretório dos Grupos de Pesquisa (DGP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à pesquisa no país, tendo como referência o ano de 2019. Encontramos 423 grupos de pesquisa distribuídos em diferentes universidades, institutos federais, fundações, empresas, agências, entre outras instituições em todo o país, que estão ligadas, diretamente, à temática da agroecologia. Considerando este universo, realizamos 25 entrevistas com interlocutores (as)individuais que foram selecionados com foco na diversidade da amostra, baseando-se seguintes critérios: geração, áreas de pesquisa, instituição a qual o pesquisador(a) está vinculado e região de atuação. No tocante à observação participante, acompanhamos duas edições do Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), a saber, a edição que ocorreu em Brasília-DF, em setembro de 2017 e a que foi realizada em Aracaju-SE, em novembro de 2019. Os resultados da pesquisa evidenciam que a agroecologia conforma uma comunidade epistêmica de caráter inter-transdisciplinar. Não há um perfil único que enquadre os (as) pesquisadores (as) agroecológicos. As pessoas que compõem esta comunidade epistêmica são oriundas de diferentes disciplinas científicas, vivenciando a produção de conhecimentos em agroecologia a partir de um conjunto diversificado de práticas e formas de engajamento. Existem alguns princípios e conceitos comuns, que identificam esta comunidade, como, por exemplo, a crítica aos modos de organização da agricultura e do sistema agroalimentar nas sociedades contemporâneas, o diálogo de saberes, a referência ao conceito de agroecossistema e as conexões estabelecidas entre ambiente e sociedade no estudos das tecnológicas relações que vinculam agricultura e alimentação nos espaços urbanos e rurais e no desenvolvimento de alternativas sociais e tecnológicas voltadas à transformação da agricultura e do sistema agroalimentar. Mas é preciso considerar que, mesmo estes conceitos, são acionados a partir de arranjos muito diferenciados, potencializando várias formas de fazer ciência e de construir relações para além da academia. As trajetórias percorridas pelos pesquisadores e pesquisadoras agroecológicos envolvem, ainda, diferentes formas de mediação entre projetos individuais e institucionais. Tais projetos não se dão num vazio social, mas são informados por circunstâncias socioeconômicas e políticas. A constituição de uma comunidade epistêmica referenciada na agroecologia é, assim, influenciada pelas condições que cada espaço institucional e período histórico incitam, viabilizam e oportunizam, o que implica em jogos de poder em que interesses, recursos e formas de organização da agricultura e do sistema agroalimentar estão em disputa.
Palavras-chave: Sociologia da Ciência; agroecologia; trajetória; comunidads epistêmicas; pesquisadores(as); coprodução.

 


 

Postado em 14/03/2023 - 12:20 - Atualizado em 12/04/2024 - 17:39

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