Morreu aos 68 anos o cientista político Héctor Alberto Alimonda, intelectual apaixonado pelas demais disciplinas e com as quais manteve diálogos extremamente frutíferos, professor dedicado com muitos anos de sala de aula, pesquisador/leitor militante, combativo e elegante. Héctor Alimonda foi atingido pela ditadura argentina. O Comando do V Corpo do Exército, situado em Bahia Blanca, desenvolveu perseguição aos docentes, discentes e funcionários da Universidad del Sur. Muitos foram presos e outros como Héctor apareceram nos jornais como foragidos. O caso teve grande ressonância internacional, tendo sido acompanhado pela UNESCO. Foi dessa forma, exilado, que chegou a São Paulo em agosto de 1976, com recomendações da FLACSO. Trouxe ao CPDA/ICHS/UFRRJ, desde sua chegada em 1984, reflexão sobre o pensamento criativo dos clássicos, de Mariátegui, dentre outros. Lecionou e orientou, por anos, temas sob recortes vários, notadamente da ciência política e da história, interdisciplinares. Escreveu muito sobre processos latino-americanos e com o mesmo vigor e acuidade raros, sobre os temas ambientais, principalmente sobre áreas epicentrais de devastação, como as Amazônias brasileira e circundantes. Um brasileiro latino-americano. De vasto conhecimento e interessantes interpretações sobre “nossas coisas”, como escreveu, emocionado e triste, Raimundo Santos. Em 1988, Héctor e John Wilkinson organizaram o que certamente foi o primeiro seminário acadêmico internacional sobre o Mercosul, chamado “A Integração Argentina-Brasil-Urguai. Opções e Desafios para os seus Sistemas Agroindustriais e Alimentares” (UERJ, 12 -14 de setembro, financiado pelo CNPq, FINEP e a Fundação Ford). Os Anais foram publicados pela UFRRJ em 1990, quando Héctor era Coordenador do CPDA. O sucesso do Seminário se devia em primeiro lugar à capacidade de Héctor de mobilizar a participação de intelectuais de primeira linha da Argentina e Uruguai. Héctor Alimonda, além de sua grande contribuição acadêmica na área da Ecologia Política Latino Americana, gostava muito de literatura, escrevendo pequenos contos em particular. Essa e outras facetas de seu personagem faziam dele uma figura suis generis, uma figura à parte na academia e no CPDA. Seja no que tange à concepção de trabalho intelectual, às práticas acadêmicas adotadas, ao companheirismo, à afabilidade e a seu jeito simpático e tímido, nós, seus colegas, companheiros e amigos do CPDA/DDAS, nos despedimos dele, com profunda admiração, agradecidos pela amplitude da contribuição com que nos contemplou e enriqueceu, e zelando pelo que nos deixou.
Héctor Alberto Alimonda nasceu em 15 de Junho de 1949, em Punta Alta, Província de Buenos Aires, Argentina. Graduado em Licenciatura em Sociologia – Universidad de Buenos Aires (1972), Mestrado em Ciencias Sociales – Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (Sede Argentina) (1978) e Doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1982). Pós-doutorado em Cultura e Política na América Latina, El Colegio de México. Recém tornou-se Professor Titular do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade/CPDA – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2016), Pesquisador Visitante no Instituto de Investigaciones Gino Germani, Facultad de Ciencias Sociales – Universidad de Buenos Aires, Pesquisador II do CNPq. Investigador honorário e membro do conselho editorial da Revista Interdisciplinaria en estudios sociales, CIESO, Bahía Blanca, Argentina. Membro do Comité Científico do Instituto de Estudios Ecologistas, Quito, Equador. Teve participação destacada na CLACSO, onde criou o GT de Ecologia Política. Tinha marcada experiência na área de Ciência Política, atuando principalmente nos seguintes temas: ecologia política, imagens, desenvolvimento rural, América Latina em geral, Argentina, Brasil.
Dentre sua vasta produção acadêmica, de cognição diversa, destacamos a título de síntese: “Notas sobre La ecologia política latinoamericana: arraigo, herencias, diálogos”, Ecologia Política, 2016; “Mariátegui, pensamiento fronterizo y transmodernidad: una aproximación al programa de investigación modernidad/colonialidad”, GEOgraphia/UFF, 2009. “Ojos en Chiapas, luces para el Sexto Sol”, Cadernos de Antropologia e Imagem (UERJ), Rio de Janeiro, 2003; “La problemática del desarrollo ambiental. Una introducción a la ecologia política latinoamericana pasando por la historia ambiental”, In: Neptalí Monterroso Salvatierra; Luis Alfonso Guadarrama Rico; Lilia Zizumbo Villareal. (Org.); Democracia y desarrollo en América Latina. 1ª ed. Toluca: Universidad Autónoma del Estado de México, 2014; ALIMONDA, Héctor (Org.) . La Naturaleza Colonizada – Ecología Política y Minería en América Latina. 1ª ed. Buenos Aires: CLACSO/Ciccus, 2011; ALIMONDA, Héctor; HOETMER, R.; Saavedra, D. (Orgs.). La Amazonía Rebelde – Perú. Lima: CLACSO/Universidad Nacional Mayor de San Marcos/Programa Democracia y Transformación Global/CONACAMI, 2009; “A invenção da América Latina e outras obsessões”. Estudos Sociedade e Agricultura (UFRRJ)1994; “Genealogias do desenvolvimento”. In: Eli Napoleão de Lima; Sérgio Pereira Leite. (Orgs.). CPDA – 30 anos – Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Edur/Mauad, 2014.
Faleceu em 03 de Maio de 2017, deixando Célia, sua filha Júlia e seus demais companheiros, amigos e colegas.
Postado em 16/05/2017 - 14:07 - Atualizado em 29/06/2018 - 16:30