Os trabalhos estão colocados em ordem cronológica (data da defesa) e podem ser acessados na plataforma Sucupira ao clicar em seus títulos.
RAMON ALVES MALTA
A colonialidade do poder no Baixo Sul da Bahia: as estratégias de poder dos grupos econômicos e a luta do campesinato negro por território
Defesa: 17/02/2020
Banca: Nelson Giordano Delgado (CPDA/UFRRJ – Orientador), Claudia Job Schmitt (CPDA/UFRRJ) e José Renato Sant’Anna Porto (UFF).
Resumo: Esta investigação toma como lócus, o Projeto Turístico Imobiliário da Ponta dos Castelhanos, localizado ao Sul da Ilha de Boipeba. O universo da pesquisa abrange duas comunidades, situadas na Ilha e no continente, respectivamente a Comunidade de São Sebastião no município de Cairu e a Comunidade de Barra dos Carvalhos que pertence ao município de Nilo Peçanha, ambas situadas no Território do Baixo Sul da Bahia. O conflito inerente a tal Projeto não é o objeto de análise, busca-se observar alguns aspectos de sua manifestação para evidenciar e compreender o poder e a dominação, a fim de subsidiar a questão a ser analisada, que se dedica a entender como a violência anti-negra, que é exercida diretamente por estes agentes locais, conforma um componente fundamental do rentismo no Baixo Sul. O universo empírico centraliza-se no caso de 54 camponeses desterritorializados do Sul da Ilha de Boipeba, que possuem residência no continente e traça conexões entre este caso, que envolve mais camponeses de Barra dos Carvalhos e a ação do rentismo, travestido sob a forma de projeto turístico. O conflito socioambiental ganhou visibilidade na última década e envolve uma série de desdobramentos motivadas pela especulação turística e imobiliária. A área de estudo, destaca-se pelo seu patrimônio natural, diversidade biológica, mata atlântica, manguezais, recifes de corais, ambiente marinho, e por uma diversidade cultural, presente graças as territorialidades dos Povos e Comunidades Tradicionais, sobretudo ribeirinhos, aqui consideradas como campesinato negro. O campo teórico de investigação, preconiza a Ecologia Política Latino-Americana e o campo de Estudos Decoloniais, a partir da abordagem da colonialidade do poder onde a raça e o racismo são categorias centrais. Adotou-se a observação participante, como método, lançando mão de entrevistas abertas em profundidade e semi-estruturadas, além do uso de mapas, fotografias e auxílio de software sphinx. O primeiro capítulo é destinado a uma rápida evolução histórica do Baixo Sul e um debate sobre a colonialidade, dando pistas sobre as relações de poder que predominou no território. O segundo capítulo se dedica a levantar aspectos de como o Estado, sobretudo o judiciário expressa a colonialidade ao se apresentar e se relacionar com as elites e as populações camponesas locais, para entender as estratégias de poder e dominação que grupos econômicos exercem no Baixo Sul e seu protagonismo na continuidade das situações coloniais – entendida aqui como colonialidade. O capítulo 3 busca verificar de que modo a violência antinegra tem sido exercida a fim de viabilizar o turismo elitizado e o branqueamento territorial, num contexto territorial marcado pela grande produção de gêneros alimentícios oriundos da pesca e da agricultura que constitiu esse campesinato.
Palavras-chave: colonialidade; campesinato negro; capital turístico-imobiliário; violência antinegra; Ilha de Boipeba.
MARIANA HOMEM DE MELLO REINACH
Controvérsias sobre a dimensão social da agroecologia: uma comparação entre os discursos políticos da FAO e da Via Campesina
Defesa: 16/03/2020
Banca: Andrey Cordeiro Ferreira (CPDA/UFRRJ – Orientador), Claudia Job Schmitt (CPDA/UFRRJ), Igor Simoni Homem de Carvalho (UFRRJ) e Selmo Nascimento da Silva (CPII).
Resumo: A defesa da agroecologia tem congregado pessoas e instituições diversas, representando camadas sociais e interesses divergentes e mesmo antagônicos. A presente pesquisa teve por objetivos, por um lado, realizar uma leitura crítica sobre o contexto geopolítico global que acompanhou a emergência e difusão da agroecologia pelo mundo, e por outro, identificar o conteúdo político e ideológico do que se afirma como a “dimensão social da agroecologia”. Para isso acompanhamos a trajetória de desenvolvimento do termo “agroecologia” desde os anos 1930 até os dias de hoje, bem como a trajetória de seu par antagônico – a ciência agrícola convencional ancorada pelo pacote tecnológico da Revolução Verde e que em sua segunda etapa vem incorporando elementos de ecologização técnica e de valorização de conhecimentos “locais”, integrando-os de forma subordinada nos quadros de acumulação. Demos especial atenção ao período compreendido entre os anos 1990 e 2000 – cenário de emergência do neoextrativismo e das propostas de “desenvolvimento sustentável” e de “multiculturalismo neoliberal” disseminado por organismos multilaterais – que coincide com o momento em que a agroecologia ganha maior destaque e espaço no debate público. Em seguida, realizamos a análise empírica sobre os discursos políticos da Via Campesina e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) sobre agroecologia. Por terem capilaridade internacional, ambas as organizações influenciam e são influenciadas por uma ampla gama de sujeitos e instituições, o que torna seu discurso particularmente relevante. A partir de documentos oficiais, relatórios e declarações destas entidades pudemos observar como se construiu o conceito de agroecologia em cada uma delas. Utilizando a Ecologia Social de Murray Bookchin e a ontologia anarquista de Mikhail Bakunin como lentes teóricas e ferramentas analítico-interpretativas, identificamos que a distinção fundamental entre os “tipos” de agroecologia reside nos campos da diferenciação de classe, da ideologia, da organização social e da relação estabelecida entre humanidade, sociedade e natureza. Concluímos que hoje há uma coexistência entre um saber agroecológico que tende a assumir uma forma hegemônica-dominante-central, alinhado à segunda etapa da Revolução Verde e aos centros de poder, construído a partir de uma política econômica liberal como prática governamental; e um saber agroecológico em sua forma subalterno-periférica-insurgente, alinhado às periferias do poder, construído a partir de práticas emancipatórias em busca de autonomia e territorialização do campesinato. Esses dois “tipos” de agroecologia, ao mesmo tempo que se excluem, se reforçam mutuamente a partir da dialética entre autoridade e liberdade.
Palavras-chave: Agroecologia; Ecologia Social; Sistemas agroalimentares; Natureza e Sociedade.
LÍGIA MARIA DE OLIVEIRA NONATO
A luta pela terra na Baixada Fluminense na década de 1980: um estudo de caso sobre o Mutirão Campo Alegre
Defesa: 27/03/2020
Banca: Leonilde Servolo de Medeiros(CPDA/UFRRJ – Orientadora), Debora Franco Lerrer (CPDA/UFRRJ) e Paulo Roberto Raposo Alentejano (UERJ).
Resumo: A dissertação tem como finalidade analisar o surgimento e reincidência de ocupações de terra na região da Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro, entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980. Tomando o caso do Mutirão Campo Alegre, a pesquisa busca ressaltar a importância histórica dessa ocupação, a partir da memória individual e coletiva construída durante os primeiros anos, assim como os processos de resistência cotidiana que possibilitaram a permanência de parte dos ocupantes na terra até os dias atuais. Ao estabelecer esta discussão, a dissertação procura evidenciar as recorrentes violações de direitos sofridas pelos demandantes de terra, exercida sob as mais diversas formas, bem como as suas tentativas de resistência, sua mobilização e organização, contemplando, desta forma, os agentes sociais envolvidos e suas formas de luta.
Palavras-chave: luta por terra; reforma agrária; Campo Alegre; Baixada Fluminense.
JESSICA SIVIERO VICENTE
Uma nova safra de proprietários rurais? O caso dos investimentos da Universidade de Harvard em recursos naturais no Brasil
(Prêmio de melhor dissertação de mestrado em Sociologia Rural da Sober 2021)
Defesa: 02/04/2020
Banca: Sergio Pereira Leite (CPDA/UFRRJ – Orientador), Karina Kato (CPDA/UFRRJ) e Carla Silvina Gras (UNGS).
Resumo: Com quantos arames se faz uma cerca? Quantos títulos são necessários para inventar uma propriedade? No caso em questão, ou melhor dizendo, nos casos das “questões” que contarei, além dos já bem conhecidos títulos “grilados”, as terras estão sendo cercadas também por “novos títulos financeiros”, combinados eles forjam uma oposição, aparentemente inusitada, entre professores, estudantes, executivos e financiadores da Universidade de Harvard e trabalhadores rurais do sertão baiano. A pesquisa que construí nasceu da perplexidade ante o choque entre esses dois mundos tão distantes, partindo de um caso localizado de grilagem envolvendo 140 mil hectares no oeste da Bahia, encontrei uma articulação entre atores locais, gerentes do agronegócio nacional e executivos da companhia que administra os ativos e fundos da Universidade de Harvard (a Harvard Management Company, HMC), daí a questão: quem é esse novo proprietário de terras? Afinal, há algo de “novo” neste caso? Defendo que o “novo” é resultado de uma luta pelo estabelecimento do chamado “mercado financeiro com recursos naturais”, que se organiza em torno de um modelo de propriedade fundiária institucional e cujo movimento de globalização vem produzindo fronteiras para valorização do capital em diferentes países do mundo. Nesse processo, o Brasil tornou-se especialmente atrativo, tendo sido representado como a maior fronteira do mundo para novos investimentos em terras e agricultura, o que fez surgir e constantemente ressurgirem “novas fronteiras” no país, espaços que vêm sendo produzidos pelo encontro entre atores e políticas nacionais, capitais financeiros e transnacionais, trabalhadores rurais, comunidades tradicionais e populações do campo. Nesta dissertação, tentei destrinchar quem são esses agentes financeiros escondidos por trás dos eventos e esboçar a complexidade dos arranjos políticos e conflitos fundiários nos quais se inseriram.
Palavras-chave: financeirização da terra; propriedade fundiária institucional; fronteiras; expropriação; expulsões.
PEDRO GROSS SATURNINO BRAGA
A apropriação da categoria “povos tradicionais” para a autoafirmação de uma identidade coletiva
Defesa: 08/05/2020
Banca: Andrey Cordeiro Ferreira (CPDA/UFRRJ – Orientador), Debora Franco Lerrer (CPDA/UFRRJ), Carmen Silvia Andriolli (CPDA/UFRRJ) e Cleyton Henrique Gerhardt (UFRJ).
Resumo: A dissertação reflete sobre a mudança de significado na categoria povos e comunidades tradicionais. Este foi um conceito criado pelo poder público e pela academia para englobar diversas comunidades que, apesar de serem diferentes umas da outras, tinham características consideradas semelhantes. Essa categoria teve seu significado alterado, se tornando um elemento de identidade coletiva, em que as comunidades assumem essa nomenclatura e passam a se autodenominar povos tradicionais. Essas comunidades, que eram agrupadas numa mesma categoria por vontades externas a elas, passam a traçar alianças entre si e começam a ser uma vontade própria, principalmente por conta dos conflitos semelhantes que tinham com a sociedade ocidental. Para analisar essa questão, a pesquisa foca na Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, órgão estatal que reunia os diferentes segmentos dos povos tradicionais e te papel fundamental na união desses diferentes povos. Foi importante como força política para eles, e também na autoidentificação das comunidades de povos tradicionais. É vista, ainda, a relação desses povos com o Estado, e as maneiras que as comunidades tradicionais se utilizam de elementos da ontologia ocidental para a defesa de seus interesses.
Palavras-chave: conceito de povos tradicionais; Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais; Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais; conflitos ontológicos; políticas públicas.
MAURO TOLEDO SILVA RODRIGUES
A disputa dos projetos territoriais para o uso e ocupação do gerais: o caso da comunidade geraizeira de Catanduva – Norte de Minas Gerais
Defesa: 15/05/2020
Banca: Andrey Cordeiro Ferreira (CPDA/UFRRJ – Orientador), Debora Franco Lerrer (CPDA/UFRRJ), Carmen Silvia Andriolli (CPDA/UFRRJ) e Cleyton Henrique Gerhardt (UFRJ).
Resumo: A região Norte do estado de Minas Gerais, tem sido palco do fenômeno conhecido como (des)invisibilização dos povos e comunidades tradicionais, esse movimento tem como base a legislação da constituição federal de 1988, e mais recente, decretos que garantem os direitos culturais, identitários e territoriais de comunidades que se autorreconhecem enquanto tradicionais. Dentro de um mosaico de povos que emergem buscando reaver seus territórios e a manutenção dos seus modos de vida, as comunidades tradicionais geraizeiras reivindicam seus territórios localizados sob a serra Geral, questionando a lógica de ocupação e o modelo de desenvolvimento trazidos pelos complexos industriais de eucalipto, que se instalam na região no final da década de 1970. Neste contexto, o presente trabalho é fruto do estudo de caso realizado em uma comunidade tradicional geraizeira que tem seu território e sua territorialidade reconfigurados, e com o auxílio da lente teórica da ecologia política, iremos encaixar o processo vivido pela comunidade (local/regional), dentro do contexto do imperialismo ocidental e da mundialização da economia (nacional/internacional), analisando este projeto de desenvolvimento, enquanto projeto “modero-colonial”. Iremos assim, descrever as reconfigurações da malha fundiária com a instalação dos projetos territoriais dos monocultivos de eucalipto, sobrepondo o projeto territorial tradicional tecido pelos geraizeiros, e, mais recentemente, uma nova reconfiguração na malha fundiária com a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável sobre o território de Catanduva. Destarte, destacamos a importância da mobilização das comunidades em torno do acesso aos territórios tradicionais enquanto essencial para a manutenção da natureza presente na serra Geral e nas áreas de cerrado, reafirmando a importância do conceito de sociobiodiversidade, que traduz a interferência humana na natureza enquanto essenciais para a produção e reprodução da biodiversidade.
Palavras-chave: comunidades tradicionais; geraizeiros; monocultivo de eucalipto; reserva de desenvolvimento sustentável; território; territorialidade.
DANIEL CARDOSO DE ANDRADE
Afrociberdeliamocamba: Baobáxia na rota digital do Campinho da Independência
Defesa: 26/08/2020
Banca: Elisa Guaraná de Castro (CPDA/UFRRJ – Orientadora), Claudia job Schmitt (CPDA/UFRRJ) e Marta de Oliveira Antunes (IBGE).
Resumo: Fruto da junção entre “baobá” e “galáxia”, Baobáxia é um sistema digital livre criado para permitir o armazenamento e compartilhamento de materiais multimídias por locais com pouco ou nenhum acesso à internet. Desenhada por integrantes e parceiros da Rede Mocambos, essa plataforma faz parte da jornada educativa praticada pela Casa de Cultura Tainã com quilombolas, indígenas, caiçaras e assentamentos sobre apropriação tecnológica digital. Voltado para funcionar principalmente com comunidades rurais, esse software livre sincroniza informações de forma descentralizada a partir da internet, quando disponível, e/ou pela troca de dados entre as pessoas que circulam com o programa instalado em algum dispositivo móvel. Seu processo de implementação assumiu a dinâmica de andanças pelos territórios e ganhou o nome de “Baobáxia na Rota dos Baobás” por incorporar saberes ancestrais com plantio de mudas da árvore milenar africana nos encontros de diálogos tecnológicos. Com o sistema baobáxia instalado no quilombo Campinho da Independência, como um parceiro da rede, esta pesquisa buscou explorar caminhos para identificar como o trabalho promovido pela Rede Mocambos, em articulação de comunidades tradicionais e políticas públicas, foi ou não assimilado no Campinho em seu contexto digital. Partindo de uma revisão bibliográfica sobre a formação da internet, o caso programa GESAC paraáreas rurais e o Programa Cultura Viva, este trabalho também agregou visitas de campo, entrevistas, análises de bases de dados e conteúdos digitais. Com apoio de autores que trabalham redes sociais, como Barnes e Bott, e teóricos que trabalham com apropriação tecnológica, como Fouché e Eglash, este trabalho trata-se de uma exploração inicial sobre o tema que envolve redes multiculturais de pessoas e saberes na apropriação conjunta de tecnologias comuns.
Palavras-chave: Apropriação Tecnológica; Rede Mocambos; Casa de Cultura Tainã;Comunidades Tradicionais; Quilombo Campinho da Independência; Software Livre; Redes.
BERNARDO MANSUR ANACHE
Instrumentos e perspectivas para gestão ambiental e territorial na Amazônia Legal. Uma contribuição sobre análise de discursos na alteração do código florestal e criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)
Defesa: 27/08/2020
Banca: Jorge Osvaldo Romano (CPDA/UFRRJ – Orientador), Thereza Cristina Cardoso Menezes (CPDA/UFRRJ)e Carlos Alberto Franco da Silva (UFF).
Resumo: Passados oito anos desde a instituição do Cadastro Ambiental Rural (CAR), percebe-se sua capacidade no reconhecimento do desmatamento em áreas privadas na Amazônia, bem como seu potencial para a geração de conflitos por terra, devido seu uso como insumo a regularização fundiária. São constantes os pedidos para alteração ou retirada de prazos sobre a fase de cadastro, mantendo a possibilidade de acesso a crédito e não recuperação de áreas desmatadas irregularmente. Não há uma síntese sobre o que poderia ser um paradigma de desenvolvimento para Amazônia. O grande capital extrativista e agropecuarista tem uma percepção e perspectiva produtiva e econômica sobre as potencialidades da mesma, incluindo a produção bioeconômica. Nesse contexto, estão as disputas sobre a atualização do Código Florestal (CF) de 1965 e a institucionalização do CAR, as quais pretendemos observar por meio da articulação da abordagem pluralista com a questão da hegemonia, para consolidar nossa aproximação através de dois grandes grupos ligados ao meio ambiente, exploração e uso da terra. Para consolidar a análise, separamos nossa discussão por grupos entre ambientalistas e ruralista. Considerando as propostas de Laclau e Mouffe (2015) com a utilização de um modelo proposto e aplicado por Errejón Galván (2012) e Romano (2018), a partir dos marcos interpretativos (SNOW e BENFORD, 1988) faremos uma análise sobre marcos específicos no discurso político. Ao longo de sua execução, o CAR foi apropriado por atores da bancada ruralista, e passou a ser visto como um possível acelerador na consolidação de territórios ocupados de forma irregular. Esses dados já podem ser vistos conforme o aumento dos conflitos fundiários identificados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e aumento do desmatamento ao longo dos últimos cinco anos (aumento de 313%). A sobreposição de cadastros com outros domínios territoriais já totaliza 960 mil km², dentre eles terras indígenas e unidades de conservação. Isso também poderá influenciar em novos conflitos com grileiros. Somado a isso, a retirada do prazo para realização do CAR, abre portas a não realização de todo o processo para regularização ambiental, um cenário antagônico ao que se esperava com o Programa de regularização ambiental. Pela análise de marcos, percebeu-se o controle por parte da bancada ruralista na disputa hegemônica, sobre o que foi discutido e tensionado para se chegar as mudanças no Código Florestal e introdução de um instrumento de gestão ambiental. As alterações do código foram influenciadas pelo discurso da garantia jurídica sobre a terra e ampliação de áreas agricultáveis para produção de alimentos, porém, tais propostas não se comprovam com base em estudos sobre intensificação da produção e uso de tecnologias. Ao fim e ao cabo, todo o esforço feito foi voltado para manutenção do status quo da exploração e desenvolvimento do agronegócio. Com a prévia análise sobre o Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais (SLAPR) e do CAR Pará, percebeu-se que o mapeamento de propriedades rurais pode ser garantido, porém, sozinho não é capaz de reduzir o desmatamento e a grilagem, abertura de novas áreas e reduzir riscos de disputas fundiárias na Amazônia.
Palavras-chave: Cadastro Ambiental Rural (CAR), Amazônia, marcos de análise de hegemonia, bancada ruralista, Frente parlamentar ambientalista.
JESSICA ANDRADE COSTA
Resistência e auto-organização de trabalhadores rurais do Sertão Fluminense no Pré-1964
Defesa: 18/09/2020
Banca: Raimundo Nonato Santos (CPDA/UFRRJ – Orientador), Debora Franco Lerrer(CPDA/UFRRJ), Eli de Fatima Napoleão de Lima (CPDA/UFRRJ) e Manoela da Silva Pedroza (UFF).
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo compreender a insurgência camponesa no Rio de Janeiro, no pré-1964, a partir de suas formas de resistência e da auto-organização dos trabalhadores rurais. A análise se concentrou na existência de formas cotidianas de resistência, nas resistências públicas e também no uso de violência militar, presente nos levantes armados que se iniciaram a partir de 1961. Para tanto, analisamos fontes materiais a respeito de três processos insurrecionais ocorridos no sertão fluminense: São José da Boa Morte, em Cachoeiras de Macacu, no Núcleo Colonial de Santa Alice, em Itaguaí e em Pedra Lisa, no município de Nova Iguaçu. De forma mais detalhada, analisamos também a resistência e a auto-organização dos lavradores de Xerém, em Duque de Caxias, área que se destacou pela grande quantidade de levantes camponeses durante os primeiros anos da década de 1960. A insurgência camponesa surge, no sertão fluminense, a partir de um contexto de expropriação de terras, causado por instituições públicas e privadas, figuras políticas, entre outros atores, o que levou ao estabelecimento de organizações camponesas formais e informais e de distintas formas de reivindicar a desapropriação das terras, tendo esse processo de lutas sido interrompido com o golpe civil-militar de 1964.
Palavras-chave: insurgência camponesa, resistência cotidiana, trabalhadores rurais.
LUISA BARCELLOS ZANIBONI
Dia de festa: um estudo sobre a Feira do Produtor Rural em Cordeiro RJ
Defesa: 22/10/2020
Banca: Karina Yoshie Martins Kato (CPDA/UFRRJ – Orientadora), Eli de Fatima Napoleão de Lima (CPDA/UFRRJ) e Maria do Socorro Bezerra de Lima (UFF).
Resumo: A partir do ano de 2016, pequenas feiras de produtores rurais começaram a aparecer no interior da Região Serrana. Nos municípios de Bom Jardim, Cantagalo e Cordeiro, por exemplo, foram organizadas feiras semanais para além das mais tradicionais, como a “Coopfeira de Nova Friburgo”, que conta com mais 50 anos de funcionamento. O presente trabalho se insere nesse contexto e pretende analisar a cadeia curta de abastecimento e consumo que se forma em torno da Feira do Produtor rural na cidade de Cordeiro. A literatura recente aponta para a capacidade que essas feiras tendem a reconectar os produtores com os consumidores e relocalizar os alimentos, mostrando que os mesmos possuem uma origem. Revalorizando assim o local, como também a produção artesanal e o respeito ao tempo de maturação de cada cultivo. São esses os aspectos que buscaremos analisar, visando compreender o porquê de uma feira do produtor rural em Cordeiro. Os procedimentos metodológicos utilizados no estudo serão: revisão bibliográfica, levantamento de dados por meio de pesquisas semiestruturadas, observação e análise de dados..
Palavras-chave: feira;cadeia curta de abastecimento e consumo;redes agroalimentares alternativas;agriculturafamiliar;consumo alimentar.
MONICA RAMOS DOMINGUES CARNEIRO
Produtoras e consumidoras: alimentação de famílias agricultoras-feirantes de Guapimirim num contexto de mudanças nas relações urbano-rurais
Defesa: 28/10/2020
Banca: Renato Sergio Jamil Maluf (CPDA/UFRRJ – Orientador), Claudia Job Schmitt (CPDA/UFRRJ) e Joana Cruz de Simoni (PUC-RJ).
Resumo: Produtoras e consumidoras: alimentação de famílias agricultoras-feirantes de Guapimirim num contexto de mudanças nas relações urbano-rurais. 2020. 108p. Dissertação (Mestrado de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade). Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2020. Essa dissertação teve por objetivo analisar as repercussões das mudanças nas relações urbanorurais na alimentação das famílias agricultoras-feirantes de Guapimirim, inseridas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a partir da percepção dos interlocutores no tocante à alimentação de suas famílias. Utilizamos os autores Carneiro (1998), Wanderley (2009) e Rua (2005; 2019) para argumentar sobre a manutenção da noção de rural e das peculiaridades desse espaço, ainda que transformado, e romper com dicotomias e pares de oposição. Foram destacados os pontos mais relevantes do processo de intensificação dos fluxos entre o urbano e o rural no estado do Rio de Janeiro e as características principais do município estudado para fins de contextualização. A pesquisa fundamentou-se na abordagem socioantropológica da alimentação (CANESQUI e DIEZ GARCIA, 2005; MACIEL, 2005; MINTZ, 2001; POULAIN, 2006) e teve caráter qualitativo. Valemo-nos de observação e entrevistas semiestruturadas com nove núcleos familiares que participam da Feira Orgânica e Agroecológica do município para obtenção dos dados em campo. As conclusões principais apontam para uma alimentação composta por itens de origem variada, oriundos de produção própria ou adquiridos na feira e mercados, incluindo alimentos in natura, processados localmente, e industrializados. Não se evidenciou uma tendência de homogeneização alimentar baseada nos produtos industrializados, e sim a incorporação de alguns desses itens no consumo diário das famílias, a partir de ponderações sobre praticidade, custo, prazer e saudabilidade. A intensificação dos fluxos entre o urbano e o rural, sobretudo com a construção da rodovia que atravessa Guapimirim, mostrou-se um vetor relevante na disseminação de bens para áreas com menor acesso anteriormente, e as repercussões mais significativas desse processo se deram na melhoria do acesso a serviços, principalmente públicos, de saúde e na maior possibilidade de interações e construção de redes que promovem discussões e reflexões a respeito dos alimentos e alimentação saudável.
Palavras-chave: família-rural;alimentação;agroecologia;feira;região metropolitana;relações urbano-rurais.
NATALIA GRAJALES URREGO
La cuestión agraria y la cuestión ambiental en los Andes Colombianos. Estudio sobre el Campesinado del Páramo de Sumapaz
(Indicada para o Prêmio Anpocs de Melhor Dissertação de Mestrado 2021)
Defesa: 30/10/2020
Banca: Jorge Osvaldo Romano (CPDA/UFRRJ – Orientador), LeonildeServolo de Medeiros (CPDA/UFRRJ) e Romulo Soares Barbosa (Unimontes).
Resumo: GRAJALES, Natalia. A questão agrária e a questão ambiental nos Andes colombianos. Estudo sobre o campesinato do páramo de Sumapaz. 2020. 202p. Dissertação (Mestrado em Ciências sociais em desenvolvimento, agricultura e sociedade). Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2020. A implementação de políticas ambientais baseada em visões antropocêntricas e mercantilistas da questão ambiental, tem desencadeado novas disputas entre comunidades e governos locais/nacionais em toda America Latina. Nessa cojuntura a situação dos ecossistemas de “páramo” (exclusivos da faixa tropical do planeta) é especial, tanto pelo seu papel na regulação hídrica e na produção de oxigênio, quanto pela sua disposição de diferentes bens naturais, o que torna estes ecossistemas atrativos para o desenvolvimento de novos mercados num cenário mundial de crise ambiental. Colômbia tem o maior “páramo” do mundo, o Complexo de paramos Cruz Verde-Sumapaz, onde está assentada uma das comunidades camponesas mais emblemáticas da luta agrária do país. Desde finais dos anos 1990, mas com maior intensidade a partir do processo de negociação e assinatura dos Acordos de Paz entre o Estado colombiano e a guerrilha das FARC-EP em 2016, vêm tentando se implementar uma serie de políticas ambientais neste território, o que tem sido interpretado pelas comunidades como uma ameaça a sua forma de vida. Por tanto, esta pesquisa visa analisar os avanços das visões institucionais da questão ambiental sobre o modo de vida camponês do páramo de Sumapaz a partir do estudo dos efeitos das políticas publicas ambientais nesta comunidade, e as implicações deste processo nos debates sobre a questão agrária na Colômbia. A partir da utilização de métodos qualitativos de pesquisa como observação participante, historia de vida e algumas das contribuições da Investigação Ação Participante e a etnografia, estudam-se os processos de reconfiguração do modo de vida camponês neste território desde a experiência direta de dez famílias (assentadas dentro e na divisa de áreas de proteção ambiental do Parque Nacional Sumapaz em uma extensão de seis bairros rurais), incluindo também algumas das suas principais lideranças comunitárias e políticas, e agentes institucionais (funcionários públicos). Uns dos principais resultados desta pesquisa é a identificação do que poderia ser interpretado como um processo de configuração sofisticada de acumulação por espoliação que, através da confluência de políticas públicas ambientais e não ambientais, impõe um cerco institucional espiralado sobre as comunidades, exercendo sobre elas pressões em diferentes níveis e espacialidades para induzir a sua descampesinização, desterritorialização e/ou transformação do seu modo de vida camponês em nome do “desenvolvimento sustentável” deste estratégico ecossistema.
Palavras-chave: questão agrária, questão ambiental, políticas públicas ambientais, campesinato e alta montanha Andina.
LUCAS RAMOS DOS SANTOS
Juventude Rural, Consumo e Cultura Material: Um Estudo em São Pedro da Serra, Nova Friburgo/RJ
Defesa: 17/11/2020
Banca: Fátima Portilho (CPDA/UFRRJ – Orientador), Elisa Guaraná(CPDA/UFRRJ) e Shirley Alves Torquarto (UNIVERSO).
Resumo: As pesquisas acadêmicas que se dedicam a compreender as juventudes rurais costumam enfocar temas como permanência, trabalho e comportamento, entre outros. Esta pesquisa propõe uma análise pouco abordada nos estudos sobre juventude rural: o Consumo e a Cultura Material. O local da pesquisa de campo foi o distrito São Pedro da Serra, em Nova Friburgo/RJ. A partir de entrevistas com jovens residentes neste território, identificamos quatro categorias, relacionadas ao consumo e à Cultura Material, que importam a esses jovens, atravessando seus cotidianos: vestuário, celulares, transporte e desperdício. As entrevistas revelaram, ainda, particularidades na forma com que estes jovens rurais lidam com o dilema de “sair ou ficar” e como “driblam”, principalmente através das compras pela internet, as limitações impostas por residirem longe dos centros urbanos, com maior disponibilidade de mercados. Embora não seja possível, nos limites desta pesquisa, chegar a conclusões amplas, esperamos contribuir para a construção, nos estudos rurais, de um olhar sobre as práticas cotidianas de aquisição, troca e manipulação das coisas.
Palavras-chave: Juventude Rural; Consumo; Cultura Material; São Pedro da Serra.
EDNA CATALINA SERRANO PEREZ
Os camponeses do “Nudo del Paramillo”: desapropriação e reprodução da vida numa região de fronteira agrária
Defesa: 17/12/2020
Banca: Carmen Silvia Andriolli(CPDA/UFRRJ – Orientadora), Thereza Cristina Cardoso Menezes (CPDA/UFRRJ), Leonilde Servolo de Medeiros (CPDA/UFRRJ) e Soraya Maite Yie Garzon (Universidad Javeriana – PUJ Bogotá, Colombia).
Resumo: A pesquisa descreve os processos de territorialização e reprodução social dos camponeses do NudodelParamillo ao longo do século XX. A região está localizada em áreas montanhosas e selváticas ao sul da costa caribe colombiana. Suas dinâmicas são altamente complexas: fronteira agrária numa região dominada pela fazenda de gado; presença de quatro grupos armados ilegais com diversidade ideológica (Guerrilhas Liberais, EPL, AUC e FARC-EP); e, nos anos noventa, cenário da construção da barragem de Urrá, que gerou profundos impactos nos indígenas Emberá-Katío. A dissertação atende a uma lacuna de informação referente à presença camponesa na região, toda vez que, tanto na produção intelectual sobre o lugar, quanto no plano das transformações territoriais dele, o campesinato tem sido sistematicamente silenciado e apagado, e o território está narrado quase exclusivamente em termos das dinâmicas do conflito armado. Portanto, a dissertação se propõe resgatar algumas das histórias sobre como esses grupos de camponeses chegaram na região, qual era sua relação com o contexto sócio-político circundante e sua participação no conflito armado, e até que ponto suas formas de vida eram autônomas. Proponho uma leitura histórica situada na periferia agrária da região, o que permite uma aproximação aos diferentes regimes de desapropriação territorial efetuados no século XX. Esses regimes foram agenciados por autores ilegais e pelo Estado no seu processo de consolidação nacional e regional, a partir de estratégias de desapropriação violentas e legais, no marco de modelos dominantes e assimétricos de governo territorial. A análise que faço na dissertação propõe um diálogo entre pesquisas da antropologia brasileira do campesinato, reflexões clássicas sobre seu papel político, e o conflito e a desapropriação na ruralidade colombiana. Desse modo, procura-se questionar a aparente unicidade daquelas comunidades para aprofundar na sua diversidade, analisando informação sobre as transformações das unidades domésticas para responder ao deslocamento forçado, suas motivações para participar ou não da luta armada, e sobre como resistem e continuam na reprodução de seus modos de vida depois de fortíssimos processos de desapropriação territorial.
Palavras-chave: Camponeses e campesinato, desapropriação territorial, unidade de produção camponesa, conflito armado no campo, fronteira agrária.
Postado em 29/07/2020 - 14:21 - Atualizado em 03/05/2022 - 13:46
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