Mulheres na Ciência – Entrevista com Claudia Moster

Trazemos aqui a entrevista feita com a Professora Dr.ª Claudia Moster – DCA/IF, criadora do projeto Mulheres nas Ciências Florestais. Abaixo a entrevista completa é reproduzida e a professora trata sobre a importância das mulheres nas ciências, como começou sua trajetória acadêmica além de muitos outros assuntos. Um artigo gerado com base na entrevista foi publicado na página 5 do número 23 do jornal Rural Florestal, do grupo PET Floresta, e essa matéria pode ser acessada clicando-se aqui.


Mulheres nas Ciências

Entrevista com a professora Claudia Moster

 

Prof.ª Claudia Moster.

Faça uma breve apresentação sua.

R.: Sou engenheira florestal formada na ESALQ/USP (2003), onde também fiz o mestrado (2007) e o doutorado (2018). Antes de finalizar o mestrado, já tinha iniciado a atuação profissional com consultoria, mas sempre quis dar aula. Quando a oportunidade surgiu, iniciei como tutora virtual para a Universidade Aberta do Brasil, no curso de Engenharia Ambiental a distância da UFSCAR (2007 – 2018) e como docente e coordenadora de um curso Técnico em Florestas do Centro Paula Souza – SP (2007 – 2010). A consultoria permaneceu como atividade secundária até meu ingresso na UFRRJ (2018). Também lecionei e fui coordenadora do curso de Tecnologia em Silvicultura na Faculdade de Tecnologia de Capão Bonito, do Centro Paula Souza (2009 – 2018). Durante toda minha atuação profissional realizei atividades voluntárias, participando de conselhos municipais e em unidades de conservação. Sempre fui apaixonada pela minha profissão, eu sabia que queria fazer Engenharia Florestal antes de ingressar na faculdade, pois já tinha conhecido a atuação profissional em uma feira de profissões. Fui dedicada aos estudos, aos estágios e me identifiquei com a área de Manejo de Bacias Hidrográficas logo no primeiro semestre, quando conheci minha co-orientadora, a Maria José Brito Zakia, e o professor Walter de Paula Lima. Fui acolhida como estagiária de iniciação científica, quando eu não sabia nada… e aprendi muito nessa jornada, sempre levando comigo os ideais que obtive trabalhando com esses professores: a ciência deve ser aplicada, inclusiva, difundida e trazer esclarecimento, buscando a melhoria constante dos processos produtivos para a sustentabilidade.

 

A partir de qual momento você viu que era necessário se criar um grupo de extensão voltado para a temática das mulheres nas ciências florestais? Qual foi o ano de criação do grupo? Qual objetivo?

R.: Foi  durante um evento no primeiro semestre de 2019, para a valorização da mulher na ciência realizado pelo Herbário da UFRRJ, em que fiz uma apresentação a convite de uma aluna. Eu fiquei muito honrada, e sabia que não podia estar lá como “eu”, mas como uma representante das mulheres nas ciências florestais. Durante a participação no evento eu percebi o quanto ainda era necessário valorizar essas mulheres, lembrando de histórias que vivi, que acompanhei ou que conheci. Logo após, eu entrei em contato com o Prof. João Latorraca, dizendo que eu queria fazer esse projeto de extensão e gostaria do apoio do IF. Ele foi muito receptivo, me indicando o Alessandro, a Cleide e a Georgia (funcionários do IF) para colaborarem. A Carolina, já fazia parte das atividades do LMBH, aceitou o convite e tivemos alguns alunos participando do projeto. Atualmente, a Renata e a Beatriz estão na equipe. Devo ressaltar que, como coordenadora, sou muito agradecida por trabalhar com pessoas competentes e comprometidas, que fazem do projeto algo maior do que pensamos inicialmente. O objetivo era entrevistar por questionário algumas mulheres ícones das ciências florestais, fazer um livro com os depoimentos e valorizar a atuação profissional que elas tiveram. Percebemos que, ainda hoje, as mulheres florestais com importância em diversas áreas não são reconhecidas. Assim, criamos uma metodologia para encontrar nossas entrevistadas, baseada no currículo e no tipo de atuação, para todo o território brasileiro, incluindo as que não possuem graduação em engenharia florestal, mas contribuem para as ciências florestais, no âmbito público, privado, acadêmico ou no terceiro setor. Trabalhamos com temas correlatos nas redes sociais, realizamos entrevistas por questionário e vídeos, e muitas ideias novas estão surgindo para o futuro do projeto.

 

O que você acha que melhorou ou pirou, em relação a presença das mulheres dentro da graduação de engenharia florestal, quando comparado à sua época de estudante?

R.: Quando eu ingressei, éramos a primeira turma da ESALQ com igualdade de gênero. As mulheres estão ingressando mais no ensino superior do que antigamente, e na engenharia florestal não é diferente. Temos mais mulheres a cada ano. Acho que a presença de maior quantidade de mulheres melhora a abrangência nas áreas de atuação dentro da engenharia florestal. Mas ainda temos dificuldades em relação à valorização da profissional, na igualdade da remuneração e na contratação para altos escalões, competitividade no meio acadêmico, problemas de segurança no trabalho de campo. São vários desafios ainda a percorrer, e que não estão diretamente ligados à profissão, mas tem relação com a cultura da nossa sociedade. Por exemplo, a maternidade é algo que gera sentimentos antagônicos: por um lado, as pessoas se sensibilizam pela beleza da geração da vida, mas por outro, é um fator que diminui a produtividade profissional daquela mulher. Esse é só um exemplo, temos algumas publicações nas nossas redes sociais que abordam essas diferenças de gênero nas ciências florestais, além dos depoimentos de nossas entrevistadas. Enfim, alguma coisa mudou da época em que eu era estudante, mas muita coisa permanece a mesma desde sempre…

 

Como você acha que o projeto pode empoderar jovens cientistas florestais? Qual conselho você daria para essas jovens estudantes?

R.: Eu gostaria que todxs nos seguissem nas redes sociais e assistissem às entrevistas. Digo isso, porque são mulheres inspiradoras, batalhadoras, com pensamentos e experiências de valor. Nós, do projeto, estamos sempre aprendendo com elas. Isso me lembra um pouco a transferência de conhecimentos que as mulheres são responsáveis em determinadas culturas… talvez seja isso mesmo. O conhecer e ouvir outras histórias faz com que a gente aprenda a ser melhor, a viver melhor. Eu vou citar aqui frases que se repetem em nossas entrevistas:

“Siga seu coração, faça aquilo que você tem paixão”.

“Não desista, enfrente”.

“Tenha uma meta, e siga-a”.

“Seja forte, mas seja doce com as pessoas, essa é a real feminilidade”.

“Você pode tudo o que quiser, seja determinada”.

 


 

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