Ao se tratar de história da escravidão durante muitos anos o senso comum e até mesmo uma parte da historiografia enxergavam pessoas escravizadas como um grupo homogêneo. Esse curso propõe pensar sobre como a categoria social de escravizados precisa ser analisada em conjunto com outras categorias sociais, dando ênfase em aspectos de gênero e classe. Através do cruzamento dessas categorias podemos reconstruir experiências específicas diante da escravidão e liberdade no município de Piraí nas últimas décadas do século XIX. São mulheres negras, marcadas pela escravidão que durante muitos anos possibilitaram a reprodução da escravidão no Império. Após a Lei de 1871, que declarava livre os filhos que nascessem das escravizadas, tais crianças passaram a ter o status jurídico de livres, mas ainda assim trabalhadoras. Este curso se estrutura em torno de questões que buscam compreender os limites e possibilidades das experiências de maternidade e trabalho para mulheres escravizadas e/ou egressas do cativeiro e seus rebentos livres e/ou libertos. Como manter-se livre em um contexto em que a liberdade estava atrelada ao trabalho, e ao mesmo tempo ter o direito de permanecer junto com seus familiares? Para a comunidade interna da universidade o curso objetiva ampliar o debate sobre a família negra dentro e fora da escravidão levando em consideração as especificidades de gênero e dos diversos arranjos de trabalho juridicamente livre durante e após a vigência da escravidão. Já para a comunidade externa, visa a ampliação do conhecimento e literatura sobre o tema, com o objetivo de aumentar as noções sobre a escravidão no não só em Piraí, como em perspectiva com outros locais. reduzindo assim os estereótipos sobre a temática e possibilitando maior debate sobre as relações étnico raciais no tempo presente. O curso é voltado para compreender a construção do município de Piraí em uma perspectiva que vá além dos nomes de Barões e outros proprietários escravistas que hoje dão nome às ruas e praças da cidade. Reconhecer e redescobrir as histórias de mulheres e crianças que tiveram a vida marcada pela escravidão na região visa contribuir para a construção de uma história mais plural, contribuindo para o resgate da autoestima da população negra não só do município, como de outros locais estruturados de maneira semelhante. Dessa forma, convidamos os e as participantes para, através desse cruzamento dessas categorias de análise, refletir sobre a construção das relações sociais e de trabalho nas últimas décadas de vigência da escravidão e como diversos sujeitos agiram mesmo com as limitações que lhes eram impostas, de maneira que pudessem garantir para si formas de viver mais justas.
PÚBLICO ALVO
Público Interno: Alunos de graduação e Pós-graduação.
Público Externo: Professores de história e áreas afins.