Se como ensina Heidegger, a essência do Ser, é o nada de coisa alguma; se, por conta disto aqui mesmo, não se o pode representar como um ente; se, com isso, o Ser só poderia se determinar pela liberdade, uma vez que não é ente algum sendo a pura possibilitação de possibilidade, então a essência do Ser, a essência da verdade, é a liberdade. E isto quer dizer tão somente que a verdade, o Ser, é o próprio sentido de Acontecimento [das Ereignis]: o velamento-desvelamento. Velamento porquanto seja sempre em essência o escuro do nada de ente possibilitador da clareira enquanto as possibilidades de Mundo que permitem que o ente na totalidade apareça enquanto tal e desvelamento consequente manifesto desde essas possibilidades no dar-se do Ser já enquanto sentido histórico-circunscrito (ente): Mundo instituído, a cada vez, em cada povo.
Essa estrutura do Ser e da verdade enquanto liberdade, nos ensina que não há a possibilidade uma verdade histórica (de um povo) que possa ser universal para todos os Mundos de sentido; justamente porque o Ser do Mundo é a sua finitude enquanto circunscrição, de modo que cada povo, cada Mundo tem sua verdade do Ser tão verdade como todas as outras de outros Mundos de sentido por conta da estrutura do Acontecimento do Ser. Não há portanto aqui para teorias sobre a evolução: pois esta já sempre pressupõe que a verdade e a significação acerca do ente na totalidade vem evoluindo, do mais baixo para o mais complexo; e neste complexo estaria a verdade mais verdadeira. Assim pensa o Mundo da tecno-ciência europeia que se manifesta, hoje, planetariamente. Daí a ilusão de que a verdade do Mundo de sentido eurocêntrico seja a verdade “evoluída” que os povos “primitivos” não puderam alcançar; de onde também surge o sentido de supremacia.