Nascido em 14 de abril de 1914, em Tupanciretã, RS († 4 de julho de 1975) foi um dos grandes nomes da Medicina Veterinária do Brasil e um dos mais importantes patologistas do nosso país, tendo recebido muitas distinções e homenagens. Estudou na Escola Nossa Senhora do Rosário (1921) em Porto Alegre e fez o curso secundário no Ginásio São Bento (1924 a 1929), no Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina Veterinária (1931 a 1934) pela Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária do Ministério da Agricultura, atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Sempre ocupou o primeiro lugar em todas as fases de seus estudos. Em 1945 passou em primeiro lugar entre 500 candidatos para cursar Medicina na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, e graduou-se (1952) também em primeiro lugar. Trabalhou no Serviço de Inspeção de produtos de origem animal do Ministério da Agricultura e posteriormente foi transferido para o Instituto de Biologia Animal (DNPA), onde chegou à Diretoria. Especializou-se em Patologia Humana e Veterinária e
chefiou o Serviço de Anatomia Patológica do Hospital General Manoel Vargas, no Rio de Janeiro. Realizou o Curso de Aperfeiçoamento e Especialização do Ministério da Agricultura e assim obteve o título de biologista e patologista. Recebeu o título de Mestre (Master of Science) em Patologia pela Universidade de Wisconsin, USA, em 1947. De 1938 a 1939 foi Livre-Docente da disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias e professor catedrático da disciplina de Anatomia Patológica e Técnica de Necropsias da Escola Fluminense de Medicina Veterinária (UFF). Na Escola Nacional de Veterinária (UFRRJ) foi catedrático nas cadeiras de Patologia Geral e Semiologia, porém deixou essa cadeira e prestou novo concurso para a cátedra de Anatomia Patológica e Técnica de Necropsias. Criou, e anexou a esta cadeira, a disciplina de Ornitopatologia. Todos os cargos e títulos foram obtidos por concurso de títulos e provas. Com a competência que lhe era peculiar ministrou também as disciplinas de Microbiologia e Imunologia e Doenças Infecciosas e Parasitárias, devido ao afastamento e falecimento de professores da área. Também foi Catedrático Interino de Patologia na Universidade de São Paulo. Quando o Prof. Dacorso foi nomeado Reitor (1965 a 1968) da antiga Escola Nacional de Veterinária (hoje a UFRRJ), a Universidade estava sob intervenção. Nesse período implantou o regime de tempo integral e dedicação exclusiva (RETIDE), abriu concursos em diversas áreas e motivou muitos e competentes candidatos a prestarem os mesmos. Criou a Escola de Pós-Graduação o que permitiu o aprimoramento do corpo docente da Universidade. Incentivou a pesquisa, reorganizou a biblioteca da Universidade, com a assinatura de diversos periódicos e importou equipamentos para as áreas básicas dos cursos, como microscópios e lupas e microscópios mais sofisticados para pesquisa que ainda hoje são usados no ensino. Projetou o nome da Universidade ao nível internacional pois trouxe inúmeros especialistas estrangeiros, especialmente da Alemanha e dos Estados Unidos, para conferências e palestras. A Universidade se fortalecia e se destacava pelas pesquisas que desenvolvia. Ao final do seu mandato deixou assinado um convênio com uma Universidade da Alemanha. O professor Paulo Dacorso residiu na Universidade Rural durante seu mandato. Amava a Universidade e era frequente, a este tempo, vê-lo a cavalo pelo campus, a visitar as diferentes Unidades. Visitava o Hospital Veterinário, especialmente aos sábados e domingos e com sua característica rapidez no andar, no falar e no raciocinar informava-se sobre os animais internados e, quando necessário, ajudava na conclusão do diagnóstico. Não aceitava que animais mortos não fossem necropsiados, para confirmar ou mesmo concluir o diagnóstico; tinha grande senso de observação e descrevia criteriosamente as lesões. Ao término do seu mandato de Reitor, na reunião dos Conselhos Superiores da Universidade para compor a lista tríplice para um novo mandato, seu nome recebeu o maior número de votos, porém, sem o voto dos representantes dos estudantes, ele recusou-se a participar da lista, pois considerava fundamental o apoio estudantil. Esta recusa, foi sem dúvida uma perda incalculável para o desenvolvimento da Rural, pois o Prof. Dacorso era um homem determinado, com visão e prestígio nacional e internacional. Era um homem de forte personalidade, de caráter e de decisões firmes, exemplo de integridade e honradez. O Prof. Dacorso foi, indiscutivelmente, o professor que mais impressionou os alunos da sua época e que muito influenciou vidas acadêmicas na Medicina Veterinária, em virtude de seu carisma, conhecimento e entusiasmo pelo ensino. O Prof. Dr. Hugo Edison Barbosa Rezende nos proporcionou muitas das valiosas informações descritas no texto acima e ainda afirma, em um depoimento emocionado e de pura admiração pelo seu Mestre:
“O fato de ter tido sólida formação parasitológica, sob a orientação do cientista e Médico Veterinário Hugo de Souza Lopes, glória da entomologia brasileira, permitiu-me aliar o ensino da Parasitologia com a objetividade e a praticidade dos ensinamentos ministrados pelo Prof. Dacorso, para a melhor formação do aluno de Medicina Veterinária. Por estas razões, não posso negar a admiração e influência exercida pelo Prof. Dacorso ao longo da minha vida acadêmica. Homem culto, poliglota, com amplos conhecimentos da Medicina Veterinária e da Medicina Humana, dominava a matéria profundamente, aliando o assunto principal que abordava com as matérias correlatas. Suas aulas eram magistrais, os assuntos tão abrangentes e tão didaticamente expostos que era impossível não se deixar levar pelo entusiasmo e pelo desejo de conhecer mais sua matéria. Mas ao mesmo tempo, e mais que tudo, eram aulas práticas. Aprendia-se fazendo. Durante as aulas de necropsia, sempre inquieto, circulava entre os alunos fazendo questão que fizessem as necropsias, enquanto explicava as lesões e a sua causa, fazendo o aluno raciocinar. Ao assumir a responsabilidade pela Cadeira de Zoologia Médica e Parasitologia, procurei dar ênfase nas aulas práticas, imprimindo um ritmo de objetividade e praticidade. Para tanto era preciso apoio logístico. A sensibilidade para o bom ensino era tão grande no Prof. Dacorso que quando recorri à Reitoria, não hesitou em ceder o carro que o atendia, para transporta peças oriundas dos matadouros e abatedouros, localizados na região. Era também um homem de grande sensibilidade humana e com seu prestígio na área médica, a muitos ajudou. Procurava sempre auxiliar estudantes com dificuldades financeiras ou de saúde. Gostava de comunicar-se por meio de cartas ou bilhetes”.
Aposentou-se em 1968, com produção acadêmica de 61 artigos científicos no Brasil e no exterior, todos de excelente nível, e colaborou em 15 outros do mesmo gabarito. Ocupou diversos cargos em respeitadas instituições, e de 1952 a 1962 foi chefe do Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital-Escola São Francisco de Assis, da Universidade do Brasil. Foi membro da “American Academy for Advancement” e da Sociedade Brasileira de Patologistas (1970-1972), dentre outras. Participou de inúmeras Bancas Examinadoras em concursos e defesas de teses em diferentes Universidades. Foi orientador de teses e de bolsas de pesquisa, em diferentes níveis no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Deixou discípulos como Prof. Carlos Tokarnia (UFRRJ), Dr. Jürgen Döbereiner (EMBRAPA), Prof. Jerome Langenegger (UFRRJ e EMBRAPA), Prof. Severo Salles de Barros (Universidade de Santa Maria, RS.), Prof. José Freire Faria (UFRRJ), Osvaldo Losano (Venezuela), Ana Margarida Langenegger de Rezende (UFRRJ e UFF) e muitos outros que se inspiraram em seu conhecimento, em sua maneira de ensinar e em sua personalidade forte e determinada. Foi Patologista do Hospital da Venerável Ordem Terceira da Penitência, conselheiro do CNPq (1960 e 1974), que por sua proposição criou o Comitê de Medicina Veterinária e Zootecnia, do qual foi Diretor em 1972. Foi um dos poucos brasileiros contemplados com o Prêmio Nisseiken do Instituto de Biologia do Japão. Recebeu a Medalha de Ouro da Venezuela. Foi um dos professores mais homenageados pelos alunos da Escola Nacional de Veterinária da então Universidade Rural do Brasil e da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense. Como professor, lecionou em instituições do Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul. Trabalhou no diagnóstico histopatológico com assistência a diversos hospitais e casas de saúde do Rio de Janeiro. O CFMV, instituiu o “Prêmio Professor Paulo Dacorso Filho” no dia 6 de agosto de 1976, em reunião plenária, com o objetivo de homenagear postumamente o Médico Veterinário Prof. Paulo Dacorso Filho. Esse prêmio é conferido anualmente aos profissionais que têm prestado relevantes serviços à Ciência Veterinária no Brasil. O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) Paulo Darcoso Filho, do Rio de Janeiro, foi criado em 1988 em sua homenagem. O Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente – CAIC – do Campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, também recebeu seu nome em 1993, em mais uma homenagem ao seu Professor e Reitor (1965-1968). Esse centro atende os alunos dos Cursos de Licenciatura da Universidade Rural e às crianças do Município de Seropédica. Foi um profissional extremamente respeitado pelos alunos e por toda a comunidade científica, e recebeu a distinção de Professor Convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard. Chefiou o Departamento de Patologia da UFRRJ desde sua criação em 1960 até sua aposentadoria em 1968.
Postado em 22/12/2020 - 00:11 - Atualizado em 17/05/2022 - 11:07