Filho de austríacos, nasceu na rua Barão de Guaratiba, Catete, no Rio de Janeiro, em 24 de março de 1929. Em 1938 voltou com a família para a Alemanha, onde cursou o Ensino Básico. Iniciou os estudos da Medicina Veterinária na Universidade de Viena, Áustria, em 1947. Após estudar na Alemanha e na Áustria em um conturbado período de guerra, voltou ao Brasil. Em março de 1949 ingressou na então Escola Nacional de Veterinária da Universidade Rural do Brasil, hoje UFRRJ, Seropédica, RJ e em 1952 graduou-se em Medicina Veterinária. De 1953 a 1954 trabalhou como patologista no Setor de Anatomia Patológica do Instituto de Biologia Animal (IBA) do Ministério da Agricultura. De 1955 a 1956 estagiou na área de Patologia Animal no Onderstepoort Veterinary Institute, sob os auspícios de uma bolsa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), na República da África do Sul. Durante este período também estagiou em Moçambique, Zimbábue, Namíbia, Angola e Portugal. Ainda fez estágios na área de Patologia Animal na Escola de Veterinária de Hannover, na Alemanha e no Royal Veterinary College, University of London, na Inglaterra. De volta ao Brasil, se dedicou, com bolsa do CNPq, a estudos sobre doenças de etiologias obscuras, possivelmente causadas por plantas tóxicas e deficiências minerais, no Nordeste do Brasil, em Parnaíba, PI e Fortaleza, CE. Em 1959 prestou concurso público no Ministério da Agricultura e foi nomeado para trabalhar no Instituto de Biologia Animal (IBA). De 1959 a 1979 também foi docente na Universidade Federal Fluminense na disciplina de Anatomia Patológica. Em 1965 obteve os títulos de Doutor e Docente Livre, em concurso público, com defesa de tese sobre “Alterações anátomo-patológicas da intoxicação de bovinos por Cestrum laevigatum”, a que se submeteu na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Porto Alegre, RS. Obteve o título de Especialista em Patologia Veterinária pela Sociedade Brasileira de Patologia. Foi bolsista do CNPq em todos os níveis, desde Iniciação Científica até Pesquisador A1. Em 1978, participou da fundação do Colégio Brasileiro de Patologia Animal (CBPA). De 1971 a 1978 fez parte da Assessoria Científica e do corpo editorial da revista Pesquisa Agropecuária Brasileira, e a partir de 1980 foi consultor da revista científica Pesquisa Veterinária Brasileira. Foi convidado, homenageado e palestrante em numerosos congressos e simpósios no Brasil e no exterior.
Em 1978 iniciou a docência na UFRRJ onde lecionou as disciplinas de “Doenças causadas por plantas tóxicas” e “Doenças causadas por deficiências minerais” para os cursos de Graduação em Medicina Veterinária e Zootecnia, e onde até 2015 era responsável por essas disciplinas nos cursos de Pós-Graduação. Participou, como docente de vários cursos de Pós-Graduação em níveis de Especialização, Mestrado e Doutorado em diversas Universidades Federais do país (Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal Fluminense (UFF), RJ e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Colaborou ativamente nos estudos e pesquisas de doenças da Amazônia, junto à UFPA, em colaboração por mais de 25 anos ao Professor José Diomedes Barbosa e sua equipe (Professor Paulo Peixoto, Professor Pedro Malafaia, Professora Marilene, dentre outros inúmeros colaboradores). Dedicou sua vida à Medicina Veterinária, construiu uma histórica contribuição à agropecuária brasileira, e pela relevante trajetória no meio acadêmico-científico, o Médico Veterinário Prof. Carlos Tokarnia recebeu diversas homenagens:
O CFMV o elegeu vencedor do “Prêmio Prof. Paulo Dacorso Filho (edição 2014)”, homenagem que o deixou imensamente honrado, visto que o Professor Paulo Dacorso havia sido o professor mais admirado por ele, e com o qual fundamentou seus estudos na patologia. A homenagem é concedida anualmente pelo CFMV desde 1977; naquela ocasião o CFMV ressaltou a sua relevante contribuição acadêmica e toda a sua história de dedicação à Medicina Veterinária e à agropecuária brasileira, e salientou seu grandioso currículo. O prêmio foi entregue durante a abertura do XI Congresso Brasileiro e XVII Congresso Latino-americano de Buiatria, em São Paulo (SP). Segundo o discurso feito pelo próprio Prof. Tokarnia, antes de falecer, ele relatou “toda minha vida profissional sempre foi norteada pelo exemplo que o professor Paulo Dacorso Filho nos deu, pela sua dinâmica, seu entusiasmo, sua honestidade, seu incansável esforço de dar o máximo de si nos ensinamentos e a noção do dever cumprido; sinto-me extremamente honrado e lisonjeado com a manifestação de carinho dos colegas, com a distinção de ter sido escolhido para receber esse prêmio”.
O Prêmio de Pesquisa Professor Carlos Maria Antônio Hubinger Tokarnia (“Prêmio Tokarnia”), é uma parte tradicional da Semana do Médico Veterinário (SEMEV) do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ, e foi criado por um grupo de estudantes e professores durante a edição da XV SEMEV, com o intuito de imprimir um perfil científico, congratular alunos envolvidos em trabalhos de pesquisa, e especialmente homenagear uma personalidade com trajetória marcante na pesquisa dentro da UFRRJ. O Professor Tokarnia se sentiu imensamente feliz com a escolha do seu nome, participou de todas as edições com muita alegria e sempre preparava seus discursos com um entusiasmo vibrante para apesentar por ocasião das premiações.
Outro “prêmio Professor Carlos Tokarnia”, foi criado por ocasião do VIII ENDIVET – Encontro de Laboratórios de Diagnóstico Veterinário realizado na UFMT, que aconteceu de 10 a 13 de novembro de 2014, em Cuiabá MT.
O Professor Carlos Tokarnia teve a sua formação de Médico Veterinário e Patologista no seio da UFRRJ, dedicou sua vida profissional ao engrandecimento da nossa universidade. Ao longo da sua vida sempre foi um professor que passou seu entusiasmo e gosto pela patologia de forma dinâmica, prática, com o empenho de um iniciante, de forma contagiante, com a competência e a humildade dos grandes mestres. Além de todo o seu talento como patologista, passou-nos a lição do incansável gosto pela pesquisa e pela docência.
Durante toda a sua trajetória, o Professor Tokarnia permaneceu e dedicou mais de 60 anos de sua vida acadêmica e de patologista ao Setor de Anatomia Patológica (SAP), e foi uma das pessoas que se envolveu diretamente e muito contribuiu com a estruturação técnico-científica do então SAP; participou ativamente das etapas da estruturação do acervo do Museu de Anatomia Patológica, e como tal foi homenageado; hoje o Museu recebe o seu nome. Como Mestre foi uma referência na área de patologia de animais de produção no Brasil e em toda comunidade científica devido ao seu incansável trabalho, dedicação e paixão pelas atividades que exercia. Nessa esfera, fez história de grandes amizades e parcerias de trabalho com os mais respeitados Professores e Patologistas do Brasil, e fez escola de toda uma geração de novos patologistas, frutos dos seus ensinamentos.
As pesquisas com deficiências minerais ocorreram em parceria com os pesquisadores Jürgen Döbereiner, Paulo Peixoto, Pedro Malafaia, José Diomedes Barbosa, Sheila Moraes, dentre outros. Realizou vários estudos sobre a deficiência de fósforo e fez o primeiro diagnóstico de botulismo epizoótico no agreste do Piauí (Tokarnia et al., 1970).
Na década de 1950, Carlos Tokarnia realizou importantes trabalhos com seus colegas de pesquisa Jürgen Döbereiner, Camillo Canella e Jerome Langenegger, que elucidaram, na região Nordeste do Brasil, a crença popular da condição conhecida como “mal dos chifres”. Descreveram um surto de febre catarral maligna (= coriza gangrenosa) em bovinos no estado do Rio Grande do Norte e relataram um surto de mormo em equinos no estado do Rio de Janeiro.
Em 1978, Carlos Tokarnia, juntamente com Jürgen Döbereiner realizaram o diagnóstico de um surto de peste suína africana que ocorreu no município de Paracambi-RJ, próximo ao IBA, o que resultou na rápida extinção deste foco no Brasil, o que certamente permitiu a crescente participação do país no comércio internacional de carne suína, com ganhos de milhões de dólares anualmente.
Além disso, foi pioneiro e reconhecido através dos estudos sistemáticos que realizou sobre o diagnóstico e os quadros clínico patológicos de intoxicação por plantas em ruminantes, com a sua equipe de colaboradores (Jürgen Döbereiner, José Diomedes Barbosa, Paulo Fernando de Vargas Peixoto, Aldo Gava, Franklin Riet-Correia, David Driemeier, Severo Sales de Barros, Claudio Severo Lombardo de Barros, Marilene de Farias Brito, dentre tantos outros como Dra. Graziela Barroso (Jardim botânico do Rio de Janeiro), Prof. Pedro Germano Junior (IB – UFRRJ), Renato Gomes (desenhista autônomo) e o fiel auxiliar e parceiro de estrada João Luis Bastos (Embrapa). Todos participaram e aprenderam muito com as suas pesquisas. Essas incursões em fazendas, por todo Brasil, mostraram a importância da intoxicação por plantas e permitiram o avanço científico sobre medidas de controle e profilaxia, que resultam em vultuosa economia anual de dinheiro, pois evitam morte de milhares de animais de produção. Por outro lado, combateu e publicou sobre vários equívocos arraigados no meio rural, relacionados com plantas tóxicas e minerais para ruminantes. Não podemos esquecer que, afora grande excursão na Amazônia, as muitas viagens tinham sempre a busca incessante pelas fotografias, para os trabalhos e para os livros; pela região Norte com a contribuição substancial do Prof. José Diomedes Barbosa Neto, com o Professor Franklin Riet-Correa, em viagens de estudos sobre plantas tóxicas pelo Nordeste, e em viagens pelo Sul do Brasil, com o Professor Aldo Gava.
Finalmente, para completar e refinar o diagnóstico diferencial com as plantas tóxicas, orientou uma série de dissertações, teses e trabalhos sobre acidente ofídicos em animais de produção, que preencheu uma grande lacuna de informações em relação a sinais clínicos, necropsia e histopatologia.
Publicou mais de 200 trabalhos em revistas científicas nacionais e internacionais e escreveu livros que são referência como, “Plantas Tóxicas da Amazônia a Bovinos e outros Herbívoros” – 1ª e 2ª edição (Tokarnia et al. 1979, 2007), “Plantas Tóxicas do Brasil para Animais de Produção” – 1ª e 2ª edição (Tokarnia et al. 2000a, 2012), e “Deficiências Minerais em Animais de Produção” (Tokarnia et al. 2010).
Todas essas doenças ou grupos de doenças que causam impacto econômico para a sociedade são muito importantes no cenário nacional e ainda produzem enormes prejuízos. A admiração e reconhecimento pelo seu nome é pautada na sua grande participação em serviços prestados ao crescimento da pecuária brasileira na área de patologia, uma vez que se preocupou e lutou pela sanidade dos rebanhos.
Cabe ressaltar traços marcantes da sua personalidade como o prazer de pesquisar, escrever, a paciência de corrigir, a inesgotável busca por aprender, a perseguição pela perfeição, a organização, a disciplina, o gosto pelas viagens, excursões, caminhadas , pelo montanhismo, pelos vôos de asa delta, pelos livros, pela música, pela fotografia e sobretudo pela natureza, a abertura em aceitar a tecnologia, o cuidado com a memória, a brasilidade. Era ponderado, objetivo, prático e determinado. O Professor Tokarnia deixou uma legião de privilegiados, que são os que tiveram a oportunidade de conviver com ele e de absorver seus ensinamentos, nos quais se espelham como o modelo de um profissional e mestre socrático.
O Professor Tokarnia residiu a maior parte da sua vida, no bairro residencial da Universidade Rural, Km 47. E afirmava que era o lugar onde foi mais feliz. Após se aposentar, aos 70 anos, continuou trabalhando ativamente até o final, na pesquisa, no ensino de Pós-Graduação e na extensão. Em 6 de julho de 2015, Carlos H. Tokarnia faleceu, aos 86 anos de idade.
O Setor de Anatomia Patológica do DESP/IV/UFRRJ, confirma a gratidão pelos seus sábios ensinamentos.
Lattes do Professor Tokarnia: http://lattes.cnpq.br/7809700501564538
Capa do livro mais importante do Professor Tokarnia: CAPA – PLANTAS TOXICAS 2 EDICAO
Livro sobre Deficiências minerais: DESCRIÇÃO LIVRO 12-06-2010
Livro Plantas Tóxicas da Amazônia:
Postado em 17/12/2020 - 14:29 - Atualizado em 25/07/2022 - 14:58