Talvez você já tenha visto algum exemplar das espécies da família botânica Acanthaceae. São plantas encantadoras. Lembro-me com nitidez das aulas de Organografia, uma disciplina da graduação de Engenharia Florestal, em que a professora dizia: “vejam essas flores! É poesia pura!”. Agora, anos mais tarde, estou aqui a falar do projeto da professora autora dessa frase célebre. E ela está certa.
A Acanthaceae é uma das famílias de plantas mais diversas do mundo e se destaca por sua importância ecológica. Devido à estrutura herbácea, podem ser de pequeno porte e com raízes bem superficiais, com sensibilidade às mudanças ambientais, ou de sub-bosque, que cresce bem baixinha, do tamanho de mudas.
No Brasil, a Acanthaceae está distribuída por todo o seu território, com 524 espécies registradas, e na flora fluminense, sua riqueza se apresenta reunindo 134 espécies. Mas há alguns detalhes que revelam mais ainda a poesia das folhagens e flores. De cores amarelas, vermelhas, roxas, róseas, lilases ou brancas em diversos tamanhos, as lindas flores atraem abelhas, borboletas,mariposas,morcegos e, especialmente, beija-flores para sua polinização.
Será que você conhece alguma delas? Acredito que você já tenha admirado a beleza das Tumbergia (Thumbergia grandiflora), Sapatinho-de-judia (Thumbergia ysoriensis) ou o Camarão vermelho (Justicia brandegeeana), cultivadas por florescer o ano todo e serem ornamentais. Concorda que sua beleza é puramente poesia? É com essa família que a estudante Willa Cardoso de Araújo trabalhou por 10 meses, e o bolsista Felipe dos Santos Dias trabalha no projeto conservação ex situ (fora do lugar de origem) de espécies ameaçadas de extinção, prepararam uma nova coleção no Jardim Botânico da UFRRJ (JB-UFRRJ), sob orientação da docente Denise Monte Braz, do Departamento de Botânica (ICBS/UFRRJ), a autora da frase mencionada na abertura deste texto.
No Jardim Botânico da UFRRJ, assim como nos demais jardins botânicos nacionais, o objetivo é a documentação do patrimônio florístico de espécies silvestres, ou raras, ou ameaçadas de extinção, especialmente no âmbito local e regional, bem como resguardar espécies econômica e ecologicamente importantes para a restauração ou reabilitação de ecossistemas. “A implementação de uma coleção dessa família no Jardim Botânico visa a documentação e a conservação de espécies nativas, especialmente da Floresta Atlântica regional. Além disso, dentre as Acanthaceae trazidas para cultivo estão espécies com diferentes atributos, funcionalidades e representatividade.”, explica a professora Denise Monte Braz.
Denise acrescenta que o estudo objetiva o aumento da coleção viva de plantas Acanthaceae no Jardim Botânico da UFRRJ, com foco no cultivo de espécies ameaçadas de extinção, raras e/ou endêmicas, bem como espécies com propriedades ornamentais e/ou de valor medicinal, biológica ou evolutiva. importância ou evolução.
O bolsista de iniciação científica, Felipe dos Santos Dias, explica as atividades com as espécies em seu projeto no Jardim Botânico. “O Canteiro das Acanthaceae reúne espécies trazidas de campos e espécies adquiridas em hortos. São catalogadas e registradas com placas de identificação. As espécies que são coletadas em campo são direcionadas para o viveiro de produção de mudas. Assim que ganham vigor, são direcionadas para o Canteiro. Por reunir espécies ameaçadas, tem um papel importante para o estudo, pois no canteiro passam pelo processo de rustificação, que é o último passo para que essas espécies possam voltar ao campo”, detalha Felipe.
Os canteiros e a estufa contam com 31 espécies de Acanthaceae. Até o momento, em cultivo, já foram introduzidas 19 espécies no Jardim Botânico. Dentre elas, 13 são oriundas dessa área, por serem de vegetação próxima e 10 são de potencial ornamental.
Há no JB-UFRRJ duas espécies identificadas pela primeira vez no Brasil pela professora Denise e outros pesquisadores: a Justicia paracambi, nomeada em homenagem ao único município onde é encontrada; e a Ruellia capotyra, que quer dizer flor da mata, sua descoberta mais recente. Ambas são vistas naturalmente no Parque Natural Municipal do Curió, em Paracambi.
Outra espécie que é possível conhecer ao visitar o Canteiro, no Jardim Botânico, é a Schaueria thyrsiflora, que assim como as outras, está ameaçada de extinção e ocorre no Curió. A planta possui pequenas flores brancas ou amarelas.
“O maior desafio para o cultivo dessas espécies é por elas serem plantas sensíveis ao sol e gostarem de lugares úmidos, tendo a necessidade de serem plantadas em lugares com essas características e com irrigação por dispersores diariamente”, acrescentou Felipe.
No livro de Pesquisas no Jardim Botânico da UFRRJ (EDUR/UFFRJ), está registrada a atração dos beija-flores por essas áreas do JB-UFRRJ. Denise ressalta que essa interação não apenas garante a visita desses polinizadores, mas também ressalta a importância das Acanthaceae para a biodiversidade local. Além da beleza das plantas, a presença de beija-flores é frequentemente considerada um espetáculo adicional da natureza.
Quase um ano após o início do estudo, já é possível ver os resultados obtidos. Felipe conta que, a partir das informações coletadas, o intuito é criar subsídio para futuros estudos com a família botânica. Além disso, com o aumento das espécies, há planos para que haja mais canteiros.
Espécies em destaque |
Chamaeranthemum gaudichaudii (endêmica do Rio de Janeiro) |
Justicia paracambi (endêmica do Rio de Janeiro e ameaçada de extinção) |
Schaueria thyrsiflora (encontrada exclusivamente em um Parque Naturalpróximo, no Município de Paracambi e ameaçada de extinção) |
Ruellia capotyra (não endêmica do Rio de Janeiro, de ocorrência restrita, ameaçada de extinção e ornitófilas) |
Staurogyne euryphylla (ameaçada de extinção) |
Odontonema dissitiflorum (ameaçada de extinção) |
Aphelandra hirta (ornitófilas, plantas polinizadas por beija-flores) |
Aphelandra tetragona (ameaçada de extinção) |
Jacobina (nome popular), Justicia carnea (ornitófilas, plantas polinizadas por beija-flores) |
Pachystachys spicata (ornitófilas, plantas polinizadas por beija-flores) |
Ruellia paniculata (ornitófilas, plantas polinizadas por beija-flores) |
Sanquésia (nome popular), Sanchezia oblonga (ornitófilas, plantas polinizadas por beija-flores) |
Texto: Jonathan Monteiro, estagiário de Jornalismo, ex-aluno de Engenharia Florestal
Fotos: Arquivo do projeto de pesquisa
Supervisão: Alessandra de Carvalho, professora de Jornalismo.
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