O estudo da fauna do solo é essencial para compreensão da dinâmica ecológica dos ambientes naturais e suas interações com os organismos que os habitam.O professor do Departamento de Solos, Marcos Gervasio, desde o final da década de 1990, se dedica a essa área de pesquisa. No Jardim Botânico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (JB-UFRRJ), a pesquisa do docente começou há cerca de oito anos. Esse espaço de conservação da biodiversidade serve como um campo de estudo para entender como a fauna subterrânea interage com o solo, as plantas e os outros organismos ao seu redor.
O projeto de pesquisa no JB-UFRRJ iniciou a partir da monografia de Wilbert Valkinir Cabreira, em 2016, que investigou a fauna epígea (animais que habitam a camada superficial do solo e as camadas mais próximas) associada à decomposição da serapilheira de espécies nativas da Mata Atlântica1. Desde então, outros estudantes têm se dedicado a estudos dentro do Programa de Iniciação Científica do Jardim Botânico (Proverde), desenvolvendo projetos que vão desde a compreensão da composição da fauna do solo até o impacto da atividade humana sobre esses organismos.
Segundo Gervasio, entre os mais comuns no Jardim Botânico estão as formigas, mas também foram encontrados ácaros, aranhas (Araneae), baratas (Blattaria), besouros (Coleoptera), cigarrinhas (Auchenorrhyncha), cupins (Isoptera), gongolos (Diplopoda), minhocas (Oligochaeta), pseudoescorpiões (Pseudoscorpionida), tatuzinhos (Isopoda) e opiliões (Opilionida). Esses organismos formam diferentes grupos, como predadores, decompositores, herbívoros e micrófagos, que se alimentam de matéria orgânica e contribuem para a ciclagem de nutrientes. A interação desses grupos de animais favorece a saúde do solo, promovendo a maior biodiversidade e a estabilidade do ecossistema.
Conservação do ecossistema
Alguns desses organismos são conhecidos como “engenheiros do ecossistema”. As formigas, por exemplo, são capazes de modificar a estrutura do solo ao construir galerias, túneis e câmaras em seus ninhos. Esse processo não só melhora a estrutura física do solo, mas também contribui para a ciclagem de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, que beneficiam a vegetação ao redor. As formigas também facilitam a germinação de sementes e promovem a diversidade de plantas, além de criar micro-habitats que atraem outros organismos, como diferentes espécies de invertebrados e até mesmo outras formigas.
O pesquisador Gervasio também explica que no Jardim Botânico, esses organismos ajudam a promover a regeneração de espécies da flora e fauna da Mata Atlântica, facilitando sua disseminação e aumento da biomassa local. Além disso, a fauna do solo contribui para a manutenção dos recursos alimentares (como folhas, flores, frutos e raízes) disponíveis para outros organismos, incluindo aves, pequenos mamíferos e até mesmo o homem.
Ainda no JB-UFRRJ, os pesquisadores têm observado os efeitos dessas ações sobre os organismos subterrâneos, especialmente após eventos de incêndios criminosos recorrentes, que têm prejudicado a fauna e a flora locais.
Além disso, as mudanças climáticas, especialmente o aumento das temperaturas, a poluição do solo e alterações no uso e ocupação do solo, podem afetar negativamente a fauna do solo. A invasão de espécies de fauna exóticas também representa uma ameaça à biodiversidade local, mudando a composição da fauna do solo e prejudicando a dinâmica dos ecossistemas.
A conscientização sobre a importância da fauna do solo é fundamental para a conservação dos ecossistemas. Essas ações têm o objetivo de promover uma maior compreensão sobre a importância desses organismos e estimular práticas sustentáveis, além de informar a população sobre a necessidade de proteger ecossistemas como o da Mata Atlântica.
Texto: Jonathan Monteiro, estagiário de Jornalismo.
Fotos: Manual de coleta e identificação da fauna edáfica
Supervisão: Alessandra de Carvalho, professora de Jornalismo.
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